Título: Humala tenta responder à insatisfação peruana
Autor:
Fonte: O Globo, 25/12/2011, O Mundo, p. 33

Novo presidente se reinventou para ganhar votos e aposta numa esquerda neoliberal

LIMA. Opositor que liderou, nos cinco anos do governo Alan García, o descontentamento social peruano, Ollanta Humala chega ao poder sem ter as respostas para a insatisfação ainda vigente.

Esta é a ironia de um governante que, em sua primeira tentativa de se alçar à Presidência, era representante da esquerda e apostava na insatisfação social. E que, em sua nova (e bem-sucedida) disputa ao posto, moveu-se para o centro e fez um discurso alicerçado na busca por crescimento econômico e inclusão social.

Os erros da campanha do ex-presidente Alejandro Toledo fizeram os eleitores voltarem os olhos para Humala e alçá-lo ao segundo turno. Até aqui, seu contrato social era com o nacionalismo de seu partido, Gana Perú, uma esquerda tradicional, e com uma centro-esquerda antiautoritária e crente no mercado. No segundo turno, comprometeu-se com a manutenção da política econômica neoliberal da última década, que implicava na renúncia automática a seu primeiro plano de governo. Só assim pode derrotar a opção de direita e centro-direita, representada por Keiko Fujimori.

Sua fórmula de crescimento econômico com inclusão social converteu-se em um duplo desafio: valer-se de uma política neoliberal para criar riqueza e esforçar-se para redistribuí-la. Isso em uma máquina estatal que, por sua vez, tem de ser reestruturada.

Humala não é, então, nem o Hugo Chávez nem o Evo Morales que indicava seu perfil eleitoral dos primeiros tempos. Tampouco o Rafael Correa equatoriano que viram seus críticos mais obstinados. Do brasileiro Lula ele absorveu lições, como a de não temer o neoliberalismo econômico, com o qual se pode conviver sem perder a democracia nem as obrigações sociais que ela impõe.

Por agora, Humala é a encarnação de sua própria reinvenção pragmática. Aquela que fez à luz de uma realidade peruana que calça perfeitamente com sua meta de crescimento econômico com inclusão social.

O Peru apenas transita pelos primeiros meses do governo Humala. Falta saber se sua reinvenção tende a progredir ou sofrerá retrocessos e desvios preocupantes para a democracia e o desenvolvimento econômico do país.