Título: Governo anuncia a injeção de R$ 900 milhões no BNDES e na Caixa
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 27/12/2011, Economia, p. 21

Números são diferentes dos que foram antecipados por Mantega semana passada

BRASÍLIA. O governo anunciou ontem a injeção de R$900 milhões em dois dos principais bancos públicos do país, para aumentar a capacidade de as instituições emprestarem a empresas e consumidores em meio à desaceleração da economia. Um decreto autorizou o aumento do capital do BNDES e da Caixa Econômica Federal, utilizando ações da Petrobras que pertencem à União, mas excedem o necessário para o controle estatal da petrolífera.

Os números, porém, foram diferentes daqueles antecipados na semana passada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo sua assessoria, ele se confundiu. A capitalização do BNDES não será de R$500 milhões, mas de R$400 milhões. Esse aumento de capital será feito com a transferência de até 16,1 milhões de ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras.

A injeção de recursos na Caixa também será num valor diferente do dito por Mantega semana passada. Ele afirmou que a Caixa receberia R$450 milhões. Mas o decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff, pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e pelo próprio Mantega diz que a capitalização será de R$500 milhões. Ela também será feita com a transferência de até 20,1 milhões de ações da Petrobras com direito a voto.

Essas transferências de ações não tiram o controle da União e serão feitas somente após a aprovação do conselho de administração da petrolífera estatal e do pronunciamento do conselho fiscal dos bancos. Ainda será necessária a autorização final de Dilma. E se os bancos forem se desfazer dessas ações, terão de dar opção de compra à União antes de ofertá-las ao mercado.

As capitalizações fazem parte da estratégia do governo de engordar os bancos públicos, que deverão puxar o crescimento do crédito no ano que vem e tentar blindar o setor produtivo dos efeitos da crise mundial. Para o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, o governo está certo em reforçar o caixa das instituições públicas. Mas isso não se refletirá em um aumento de crédito para a indústria.

- É pouco. É uma adequação marginal, me parece que é uma adequação de caixa mais técnica do que uma mudança forte que venha prenunciar uma investida no setor produtivo - avaliou o economista, que já foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Há duas semanas, o Tesouro Nacional autorizou, sem alarde, a emissão de R$15 bilhões para injetar no BNDES. Outros R$10 bilhões serão levantados pelo governo federal para o banco em janeiro. Esses recursos estavam previstos desde o início do ano, mas foram represados na política do governo de bloquear gastos.

Como antecipou O GLOBO, a equipe econômica pretende injetar ao menos R$40 bilhões nas instituições públicas, o que inclui BNDES, Banco do Brasil, Caixa e Banco do Nordeste, em 2012. Para Almeida, esse dinheiro deve ter grande impacto na área de infraestrutura, na qual o governo dita os investimentos.