Título: No jogo de 2012, cartas de 2014
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 01/01/2012, O País, p. 3

Em ano de eleição municipal, partidos reforçam alianças de olho na corrida presidencial

Mal chegou 2012 e os principais partidos políticos do país começarão o novo ano de olho numa eleição municipal que servirá de pano de fundo para um projeto maior: a corrida pela Presidência, daqui a dois anos. Nos próximos meses, as mais expressivas legendas reforçam a articulação de alianças e as metas de crescimento, ao mesmo tempo em que trabalham nos bastidores para evitar o esvaziamento das bancadas municipais.

No alvo desde que assumiu o governo federal, o PT é o partido que mais sofrerá pressão. Com aliados como o PMDB e o PSB, ambos com planos eleitorais ambiciosos, as disputas municipais de 2012 vão dar trabalho ao partido da presidente Dilma Rousseff. O PT terá de conciliar interesses locais com o projeto de fortalecimento da base do governo.

A pressão para que os petistas não criem obstáculos na articulação das alianças país afora promete ser grande. Oficialmente, a direção nacional do PT diz que não fará mais concessões neste ano do que em eleições anteriores. O partido, entretanto, tem concluído levantamento das cidades onde poderá abrir mão de candidatos a prefeito para agraciar aliados.

PMDB: candidato em 20 capitais

Maior partido da coalizão, o PMDB já avisou a lideranças do PT que pretende lançar candidato a prefeito em 20 a 22 capitais, um aumento significativo em relação a 2008, quando teve 13 candidaturas. No caso do PSB, as metas eleitorais ainda não foram divulgadas, mas os petistas sabem que estreitar as relações neste ano com o parceiro é um passo estratégico para não perdê-lo em 2014. A legenda tem um leque amplo de alianças pelo país - incluindo o recém-criado PSD e os oposicionistas PSDB e DEM - e não descarta voo solo para a Presidência.

No início deste mês, a posição do PT em relação a alianças nas grandes cidades começará a clarear. Nas capitais onde há possibilidade de o partido não ter candidato próprio e apoiar o indicado de uma legenda aliada, a direção local do PT tem que oficializar até o dia 15 a proposta de aliança para iniciar uma discussão internamente. Para as demais cidades o prazo é março.

Para os petistas, o caso mais problemático no país é o de Belo Horizonte, onde o PSB do atual prefeito, Marcio Lacerda, tentará a reeleição, mas os petistas estão divididos quanto a apoiá-lo. A direção nacional, interessada em aproximar cada vez mais o PSB do projeto da reeleição de Dilma em 2014, pressiona para que os petistas reeditem neste ano a aliança firmada em 2008 com Lacerda e o PSDB do senador Aécio Neves. Mas o projeto encontra resistência de lideranças locais num movimento encabeçado pelo vice-prefeito Roberto Carvalho.

O secretário-geral nacional do PT, Elói Pietá, nega que o partido, em nome da governabilidade de Dilma, vá fazer mais concessões de cabeças de chapa a aliados:

- A regra é ter candidatura própria em mais de cem cidades prioritárias. Mas teremos o bom senso de fazer alianças sem que a cabeça de chapa seja do PT em alguns lugares.

A prefeitura do Rio é um desses casos. Em nome do fortalecimento dos laços PT-PMDB, os petistas apoiarão a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB). O PMDB espera o mesmo gesto em Manaus, se o senador Eduardo Braga oficializar a candidatura.

O presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), explica os interesses que orientam o partido:

- Se você quiser chegar forte a 2014 tem que chegar firme em 2012. O PMDB se fortaleceu muito com o Michel Temer na vice-presidência. Queremos aproveitar esse momento importante para fortalecê-lo ainda mais.

Os peemedebistas projetam um aumento de 12% de prefeituras sob seu comando. Hoje são 1.154, e a meta é chegar a 1.300 municípios.

Segundo Pietá, o PT não fez projeções sobre número de candidaturas majoritárias, mas decidiu que seu espaço no mapa será ampliado:

- O PT elegeu 558 prefeitos e prefeitas em 2008. Este ano vamos continuar a trajetória ascendente.

A prioridade do PT em 2012 será avançar nas capitais, em cidades com mais de 150 mil eleitores e em municípios considerados polos regionais.

Principal partido da oposição, o PSDB aposta na influência de seus governadores para recuperar o espaço perdido. Para 2012, os tucanos projetam um crescimento acima de 20% do número de prefeituras administradas pelo partido. Segundo o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, a meta é eleger mil prefeitos. Hoje a sigla tem 793. Em 2004, eram 870.

- Temos condições de eleger mais prefeitos em parte por conta do resultado na eleição estadual, quando elegemos oito governadores, melhor resultado da história - diz Guerra.

O PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, terá neste ano o primeiro teste eleitoral, mas as preocupações estão voltadas para 2014. O pleito deste ano tem sido encarado apenas como um meio de chegar mais fortalecido à próxima eleição.