Título: Eleição reabre conflito
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2009, Economia, p. 16

Auditores realizam pleito para apresentar uma lista tríplice com nomes que possam substituir o atual secretário. Indicações serão entregues ao governo em outubro

Valdir Simão, presidente do INSS, está entre os preferidos dos auditores para comandar o Fisco

Bastou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixar Brasília rumo a Londres, onde participa do encontro com os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 ¿ grupo dos 20 países mais ricos do mundo ¿ que recrudesceu a crise na Secretaria da Receita Federal. Os auditores fiscais estão organizados, desde quarta-feira, para eleger uma lista tríplice com nomes que possam substituir o secretário recém empossado Otacílio Cartaxo. A relação dos escolhidos deverá ser entregue ao ministro em meados de outubro.

Os três nomes mais cotados são os da ex-secretária Lina Maria Vieira, do superintendente exonerado da 8ª Região Fiscal (São Paulo) Luiz Sérgio Fonseca Soares e do presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Valdir Simão, o único auditor ligado à área da extinta secretaria previdenciária. Lina Vieira, depois de afastada do cargo, em julho, travou um sério embate com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Em depoimento no Senado, reafirmou ter ouvido da ministra pedido para que ¿agilizasse¿ a devassa nas empresas da família Sarney.

O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco), Pedro Delarue, admite que a lista é um recado à ingerência política na Receita, órgão historicamente técnico. ¿Mas não quer dizer que queiramos substituir o atual secretário. A ideia é propor três nomes escolhidos pelos auditores para uma eventual troca de comando¿, ressalvou.

Demissões

A interferência política também teria sido o motivo pelo qual 12 auditores fiscais colocaram seus cargos à disposição, em movimento que deu origem às exonerações no órgão três semanas atrás. Desde então, cerca de 20 servidores foram exonerados, a maior parte integrava a equipe de Lina Vieira. Outros 40, que teriam colocado seus cargos à disposição, foram persuadidos por Cartaxo a ficar, sob a promessa de que não haveria ingerência política nos trabalhos da Receita.

Parte dos auditores que não acreditou na promessa e pôs em prática a eleição para a formação da lista tríplice. A primeira etapa do pleito termina hoje, quando as 76 delegacias sindicais entregam ao Unafisco os nomes mais votados. Uma nova votação ocorrerá em instância regional, que elegerá dois auditores por região fiscal. Os 20 mais votados nas 10 regiões fiscais vão a mais uma votação no Conselho de Delegados Fiscais, que elege os 10 melhores. O último passo é convocar uma quarta eleição, em que votam todos os auditores para concluir a lista tríplice.

É a segunda vez que os auditores fiscais levam a cabo a lista tríplice. A primeira foi na gestão de Jorge Rachid, hoje adido tributário do governo brasileiro em Washington. Um auditor que já ocupou o cargo de secretário adjunto da Receita disse que o documento tem viés político, e que dificilmente deverá ser considerado pelo ministro Mantega. ¿A escolha dos dirigentes é discricionária. É uma prerrogativa do governo, e não deve ser levada em conta em uma substituição¿, revelou.

O número 76 Total de delegacias sindicais ligadas ao Unafisco