Título: Diplomatas cobram orientação do Itamaraty
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 31/12/2011, O País, p. 10

Depois da morte de Milena Oliveira, que contraiu malária, ministério admite que não há protocolo para áreas de risco

BRASÍLIA. Num movimento inédito, colegas de turma de Milena Oliveira de Medeiros, a diplomata que morreu de malária no último dia 26, cobraram orientação do Itamaraty para quem viaja para áreas de risco de doenças como a que vitimou a brasileira. O Ministério das Relações Exteriores admite que até hoje não foi criado um protocolo oficial para orientar quem vai em missões eventuais para países e regiões onde há circulação de doenças infecciosas.

O Itamaraty oferece um check-up, que é voluntário, para quem vai em missões que duram mais de 30 dias. Só agora, com a morte de Milena na África, o ministério promete fazer uma cartilha para orientar os diplomatas.

A carta reclama que Milena não recebeu nenhuma informação sobre as doenças às quais estaria exposta durante a viagem para a Guiné Equatorial, na África, e nem sobre as formas de se prevenir contra elas. O Itamaraty confirma que não há um procedimento oficial de informações nos casos de viagens como a que Milena fez representando o Brasil e informa que não está claro se ela recebeu algum tipo de orientação. No entanto, alguns colegas de viagem ouviram do pessoal da embaixada brasileira no país africano um alerta de que estavam em uma região onde há circulação de malária e a recomendação para usarem repelentes.

No caso da malária - doença para a qual não existe vacina - a precaução é simples: basta usar repelentes e blusas e calças compridas para evitar a picada do mosquito Anopheles, transmissor da doença. O Ministério da Saúde também não dispõe de uma cartilha destinada a viajantes que seguem para áreas de risco, cabendo à iniciativa do próprio procurar orientação médica sobre os riscos inerentes à viagem que realizará. No grupo de 21 diplomatas que foram, junto com Milena, para a África, apenas ela apresentou sintomas de malária (febre alta, dor de cabeça, dor no corpo, fraqueza e calafrios).

Itamaraty suspeita de atraso no diagnóstico

Milena esteve em missão diplomática no país africano em 20 de novembro e teria começado a manifestar os primeiros sintomas no dia 30 de novembro, três dias depois de voltar ao Brasil. Em Brasília, ela se submeteu à primeira consulta médica, no dia 5 de dezembro, e fez um exame de malária, cujo resultado só sairia em 15 dias. A diplomata foi internada na UTI no dia 10 de dezembro e teve sua morte cerebral anunciada no dia 17. Na última segunda, Milena faleceu. Além do problema de informação sobre prevenção e sintomas da doença, o Itamaraty suspeita de que houve atraso no diagnóstico e no início do tratamento recebido por Milena.

A carta de colegas diplomatas cobrando melhorias no procedimento de informação e acompanhamento de quem viaja em missões curtas foi assinada por todos os 106 funcionários do Itamaraty que entraram no governo junto com Milena, no concurso de 2009. O documento foi recebido pelo gabinete do ministro Antonio Patriota, que está de férias até o próximo dia 9.

No Brasil, a malária circula principalmente na Amazônia, que concentra 99% dos casos. Até o início de dezembro de 2011, 217.298 pessoas haviam contraído a doença e 66 morreram. O caso de Milena ainda não havia sido computado.