Título: Chá de cadeira na antessala de Ideli
Autor: Braga, Isabel; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 31/12/2011, O País, p. 9

Espera e cortes frustram deputados

BRASÍLIA. A romaria pela liberação de emendas parlamentares aconteceu no quarto andar do Palácio do Planalto. Foi na antessala da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que estava ausente, de férias. Sobrou para o secretário-executivo, Claudinei do Nascimento, dar as más notícias. Os coordenadores das bancadas passaram o dia lá, levaram chá de cadeira e saíram frustrados com os cortes nas verbas para seus estados.

Todos da base do governo, os deputados eram atendidos um a um. A revolta era quase unânime. Até entre os petistas.

- O clima é de muita insatisfação. Infelizmente o governo cancelou pagamento de boa parte das emendas. Fomos tratados de uma forma muito ruim. Ficamos despachando em gabinetes atrás de migalhas - queixou-se José Airton (PT-CE).

O coordenador da bancada do Ceará, Arnon Bezerra (PTB), ficou tão irritado que decidiu renunciar à coordenação. Nenhuma das cinco emendas definidas pelo grupo foi atendida.

- Perdemos um tempão discutindo prioridades do estado e chega na hora não adianta nada. É rir para não chorar. Plena época de festas e nós aqui, passando por isso tudo. De que vale ser líder? Vou deixar o cargo - anunciou Bezerra.

Osmar Serraglio (PMDB-PR) chegou às 9h e saiu às 18h do Palácio. Um tempo que parece não ter valido a pena. O Paraná deve levar R$50 milhões de um montante cinco vezes maior.

- Não é algo que nos anime. Cria uma expectativa na bancada e no estado, que não se confirma. Tínhamos selecionado 20 emendas. O governo nos pediu para escolher cinco e só atendeu três. A liberação chega, no máximo, a 20% do total - disse Serraglio.

Coordenador da bancada gaúcha, o petista Paulo Pimenta (RS) considera o processo desgastante. Ele conseguiu empenhar quase R$100 milhões.

- O processo é cansativo, envolve toda uma engenharia. Mas fiquei satisfeito, considerando o momento de crise e o corte feito - afirmou Pimenta.

Marcelo Castro (PMDB-PI) saiu decepcionado.

- Há um mês, a ministra Ideli nos pediu para elencarmos cinco emendas. E, dessas cinco, só uma foi atendida e ainda parcialmente - reclamou ele.