Título: Que venham os turistas
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 04/01/2012, Economia, p. 15

De olho na Copa, governo cortará tarifas aeroportuárias e imposto de combustível para atrair visitantes

Ogoverno está prestes a lançar um pacote de medidas para atrair os turistas estrangeiros para o Brasil, visando aos grandes eventos esportivos: Copa e Olimpíadas. Redução de tarifas aeroportuárias, corte de impostos sobre combustível de aviação e bens para hotéis e parques temáticos, além de redução do custo da energia para todo o setor estão no cardápio. Ao todo, 14 medidas estão sobre a mesa de negociação que reúne a equipe econômica, o Ministério do Turismo, a Infraero, a Embratur e os empresários neste momento.

Até a semana que vem, deve ser publicada no Diário Oficial autorização para que a Embratur use R$8 milhões do orçamento para fazer propaganda no exterior de voos diretos para o Brasil. As companhias aéreas e empresas de turismo poderão se candidatar para receber esse dinheiro. Ganharão o patrocínio do Estado as empresas que oferecerem voos para as cidades que normalmente não são as mais procuradas. A ideia é ampliar os portões de entrada dos estrangeiros - que geralmente desembarcam no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Temor de alta de preços generalizada

A equipe econômica também estuda a mudança de classificação de equipamentos para parques temáticos e hotéis. Se a pressão do setor der certo, TVs e aparelhos de ar-condicionado seriam rotulados como investimento e teriam corte de impostos. Isso beneficiaria diretamente os 36 hotéis em construção só no Rio de Janeiro. A estrutura que a cidade tem hoje não comporta o aumento do turismo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH), a ocupação dos hotéis é de 85% em média.

- Isso significa que, no ano, há picos de 100% de ocupação. O Rio já perde grandes eventos hoje. Na Copa, estamos falando de 600 mil turistas estrangeiros - diz o presidente da ABIH, Enrico Fermi Torquato.

Uma das preocupações do governo é evitar que o setor aumente os preços. Esse foi considerado o "pecado grego" nas Olimpíadas de Atenas: para lucrar mais com o evento, a cidade aumentou todos os preços e o país ficou com a imagem de ser muito caro e afastou turistas. Por isso, a equipe econômica analisa um pedido dos empresários, que conta com total respaldo do Ministério do Turismo: a redução do custo da energia elétrica para o setor.

Para ter certeza de que os preços não vão disparar, o governo quer criar uma câmara setorial para o turismo e fechar um acordo com o setor para que não haja uma alta generalizada.

- O principal legado desses eventos não é o turismo no período dos eventos, mas o que vai gerar depois. É a imagem que vamos deixar para os 20 mil jornalistas que estão aqui - afirma o presidente da Embratur, deputado Flávio Dino (PCdoB).

Ele assumiu o cargo há apenas cinco meses e terá que lidar com problemas de infraestrutura e promoção. Em relação ao primeiro, Dino espera contar com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que contempla as obras necessárias para Copa e Olimpíadas.

Para a publicidade do país no exterior, foi necessário repensar os rumos do que foi feito até 2011. O presidente da entidade pediu que sua equipe levantasse os casos de campanhas publicitárias de sucesso do Brasil, mas não havia nenhuma para ilustrar a apresentação feita há pouco mais de um mês para os secretários estaduais.

Para dar uma guinada nos rumos do turismo de estrangeiros no país, a Embratur vai concentrar o uso dos R$48 milhões que tem para gastar em publicidade. Na nova estratégia, Dino resolveu reduzir os países onde esse dinheiro será gasto. Eram 35 e agora são 17 países, principalmente México - o maior emissor de turistas para a Copa da África do Sul - e Canadá. O Brasil quer deixar de ser um destino clássico apenas para argentinos.

- Os mexicanos são amantes do futebol como nós. Se foram para a África, não é possível que, aqui do lado, não virão - alega Dino.

Brasil vai reabrir filiais no exterior

O Brasil também reabrirá as filiais da Embratur no exterior que passaram 2011 fechadas. A internet é outro foco, já que a maioria dos turistas decide na rede o destino das férias. Foi posto no ar um vídeo interativo em 3D com cinco cidades que serão sede da Copa de 2014. No Rio, é possível fazer uma viagem de asa-delta sobre a cidade. Em Manaus, o passeio é num barco virtual para conhecer as redondezas. Já em Curitiba, é numa bicicleta.

O Executivo quer um acordo entre governadores para que sigam o exemplo de Rio de Janeiro, Bahia e Amazonas, unindo-se ao apresentar roteiros aos estrangeiros numa espécie de venda três em um: em uma viagem só, o turista conhece os três estados.

A principal crítica dos turistas estrangeiros ainda segue sem remédio: a prestação de serviço. A crise política do primeiro ano do governo Dilma Rousseff provocou a suspensão do programa de qualificação por suspeita de desvio de dinheiro. Agora, o Ministério do Turismo estuda usar a estrutura do Sistema S - como Senai e Senac - para treinar mão de obra.

- Hoje, por que uma pessoa nos Estados Unidos iria escolher o Brasil, se o serviço daqui é péssimo? Nos resorts all inclusive, não há garçom e você tem que se servir. O melhor é ir para o Caribe - diz fonte do setor.

Outro desafio do governo é facilitar a entrada pelas fronteiras do país. Atualmente, os postos da Polícia Federal e da Receita Federal já têm fila. E cerca da metade dos turistas que o país recebe hoje vem por terra.

A preocupação com o turismo não é apenas por causa de Copa e Olimpíadas. Com o crescimento da renda do brasileiro e, consequentemente, dos gastos de turistas daqui no exterior, as despesas têm pesado cada vez mais nas contas externas. Em 2012, os gastos do brasileiro em viagens internacionais não devem crescer com a mesma velocidade dos anos anteriores. Mesmo assim, o rombo nas contas externas deve continuar alto e superar o de 2011, que já foi um recorde.

O Banco Central (BC) estima que o déficit em viagens internacionais fique em US$14,3 bilhões em 2011. E neste ano, o desempenho deve ser um pouco pior: rombo de US$14,5 bilhões.