Título: Infraestrutura ainda capenga no comércio
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Fonte: O Globo, 04/01/2012, Opinião, p. 6

Mesmo com a economia conturbada na Europa e nos Estados Unidos, e apesar da apreciação do real, as exportações brasileiras tiveram um bom desempenho em 2011. Cresceram, em média, aproximadamente 26% e, assim, elevaram a participação do país no comércio internacional de 1,36% para 1,42%.

Grande parte desse desempenho é atribuída a condições excepcionais nos preços dos produtos básicos exportados pelo Brasil. De fato, a demanda por esses itens na Ásia tem mantido as cotações de alimentos, metais, petróleo e outros minerais em patamares recordes.

Trata-se de uma questão de mercado: as economias para as quais o Brasil habitualmente exportava manufaturados andam deprimidas enquanto as que demandam produtos básicos e semimanufaturados estão mais aquecidas. Sem esquecer o problemático Custo Brasil.

De qualquer forma, as exportações aumentaram não só em valor mas também em quantidades e volumes transacionados. E como há uma crescente "conteinerização" do comércio, tanto da importação como da exportação ou da cabotagem, o Brasil terá de, necessariamente, aprimorar toda a sua logística voltada para o setor, hoje ainda meio capenga.

Os portos estão com um razoável horizonte de investimentos, felizmente. O governo federal conseguiu pôr em prática, depois de longa letargia, um programa de dragagem que aprofundou o calado dos principais portos. Com isso, navios maiores podem agora atracar, ampliando a capacidade de transporte de cargas.

Concessionários privados de terminais marítimos têm também respondido à demanda de seus serviços, investindo em automação e novos equipamentos, ou até mesmo na ampliação de cais e retroáreas. Dentro de dois anos, o porto de Santos terá duplicada a capacidade de movimentação de contêineres. E, em função dos novos terminais de granéis (minérios, especialmente), o Rio de Janeiro assumirá a liderança em tonelagem embarcada e desembarcada por via marítima.

Os portos eram, há poucos anos, os gargalos mais visíveis do sistema de transporte de cargas no país. Com os investimentos que estão sendo realizados, o problema se transferiu para os acessos. O Brasil precisa desobstruir os anéis rodoviários e ferroviários nas regiões metropolitanas, e melhorar a logística de acessos aos portos.

O porto do Rio tem uma localização privilegiada, pela proximidade com os centros de consumo. Porém, é vizinho de uma zona urbana em fase de revitalização. Com o crescimento previsto na movimentação de cargas pelo porto - inclusive como base de apoio à exploração e produção de petróleo nas bacias de Campos e Santos -, são indispensáveis novos acessos e locais de estacionamento para caminhões. Os centros de distribuição estão se multiplicando junto a entroncamentos rodoviários no Rio, o que é um avanço logístico importante.

Assim como as obras de mobilidade vêm ganhando impulso nas principais regiões metropolitanas do país, essa questão da infraestrutura de transporte de cargas nas grandes cidades merece mais atenção, devido, também, aos portos localizados nas suas áreas.