Título: Recuperação americana aparece com força na geração de emprego
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Fonte: O Globo, 06/01/2012, Economia, p. 22

Indústria, construção, confiança do consumidor e vendas de carros também reagem

WASHINGTON e RIO. Dados da economia americana divulgados ontem voltaram a dar sinais de recuperação. A geração de emprego no setor privado saltou em dezembro, com a contratação de 325 mil pessoas, enquanto os pedidos de seguro-desemprego na semana passada diminuíram em 15 mil, para 372 mil, elevando as esperanças de que a recente melhora no mercado de trabalho continue em 2012. O mercado esperava a criação de 178 mil vagas. Tendências positivas têm sido uma constante na economia americana em indicadores referentes ao mês passado e a novembro, como as boas vendas do varejo, a melhora na confiança do consumidor - que subiu a seu maior nível desde abril - e o aumento de 10% na venda de carros em 2011 frente a 2010.

A solicitação de seguro-desemprego terminou o ano com contração por três meses consecutivos, em 372 mil, revelou ontem o Departamento de Trabalho. A cifra é 11% menor do que a da mesma data de 2010 e um bom sinal para o anúncio da taxa de desemprego de dezembro, que será feita hoje.

Na média de quatro semanas, que elimina as flutuações, os pedidos caíram para 373.250, o menor nível desde junho de 2008. Quando os pedidos ficam abaixo de 375 mil de forma consistente, isso geralmente indica que a contratação de pessoal é suficientemente forte para reduzir a taxa de desemprego.

Embora os pedidos de seguro-desemprego possam variar significativamente no fim do ano, a tendência geral é positiva. O economista Steven Wood, da Insight Economics, disse que os pedidos registraram uma média de 411 mil por semana frente a 459 mil em 2010. Segundo ele, isso "é um indício inequívoco de que diminuiu o ritmo das demissões".

Já o Relatório Nacional de Emprego da ADP referente a dezembro - que mostra que 325 mil pessoas foram contratadas em dezembro - surpreendeu economistas ontem. Eles esperavam a criação de 178 mil postos. O número também veio bem acima dos 204 mil empregos privados criados em novembro.

- O número foi impressionante - disse o analista-chefe de mercado da John Thomas Financial, Wayne Kaufman. - Esse é outro dado que mostra que nossa economia está melhorando. Isso vem em linha com a melhora que temos visto na confiança do consumidor e obviamente ocorre porque mais pessoas estão recebendo salários.

Analista adota tom de cautela e fala em revisão

Joel Prakken, da Macroeconomic Advisers, que ajuda a produzir o relatório, imprimiu um tom de cautela, dizendo que o salto nas contratações em dezembro pode ter sido causado por fatores sazonais de fim de ano e que pode haver revisão.

Para Carlos Langoni, coordenador do Centro de Economia Internacional da FGV e ex-presidente do Banco Central, só o fato de não haver recessão nos EUA já é um dado positivo:

- Como os EUA têm a maior economia, só o fato de não haver recessão por lá já é bom para a atividade econômica mundial.

A situação melhor na economia dos EUA também terá reflexos na política. Analistas concordam que uma recuperação da economia tende a beneficiar a reeleição do presidente Barack Obama.

- Obama sai ganhando e ainda não há um candidato forte do lado do Partido Republicano - explicou Langoni.

Mesmo assim, o economista destacou que a eleição americana não terá tanta influência na economia, pois pouco mudaria se o Partido Republicano assumisse o governo. O Federal Reserve (Fed, banco central americano), por exemplo, é independente e não muda com outro governo.

COLABOROU Vinicius Neder