Título: A menor poupança em 5 anos
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 06/01/2012, Economia, p. 21
O saldo de R$14,2 bilhões foi 63% inferior ao recorde de 2010
BRASÍLIA. Com o mundo em crise, crescimento menor do emprego, além da alta da inadimplência e do endividamento, o brasileiro guardou menos dinheiro na caderneta de poupança em 2011. Foi o pior resultado dos últimos cinco anos. Os depósitos superaram os saques em R$14,2 bilhões no ano passado, a menor marca desde 2006. Segundo o Banco Central (BC), a queda foi de 63% em relação ao ano anterior, quando a captação líquida de R$38,7 bilhões quebrou todos os recordes do Plano Real.
A alta dos juros básicos - promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) no início do ano passado - fez com que os investidores procurassem aplicações mais rentáveis que a poupança. A captação dos fundos de renda fixa, por exemplo, foi de R$80 bilhões em 2011, quase seis vezes mais, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A rentabilidade também deixou a desejar. Dados da entidade mostram que os fundos DI - que têm como referência a taxa básica de juros - renderam cerca de 11,85%. Já os de renda fixa retornaram 12,47% para os aplicadores no ano passado. Na contramão, estão as ações negociadas na Bovespa, que tiveram uma queda de 17,79% em 2011. Enquanto isso, o brasileiro que depositou dinheiro na caderneta de poupança no início do ano passado teve rendimentos de 6,8%. Mas a inflação, que deve fechar o ano perto de 6,5%, comeu os ganhos da poupança.
Inflação diminuiu sobra para poupança
Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, não é apenas a alta da Selic que fez com que a poupança tivesse o pior desempenho dos últimos cinco anos. A inflação em alta corroeu parte da renda do trabalhador disponível para poupar. Outro fator que prejudicou a poupança foi a decisão da equipe econômica de contrair o crédito no fim de 2010 para conter a inflação. Os bancos ficaram mais exigentes na hora de conceder crédito, e isso mexeu no planejamento familiar:
- Foi um ano muito difícil para o consumidor, com inflação em alta e aperto da renda e do crédito. A inadimplência subiu por isso.
Na avaliação do economista, em 2012 será o inverso do ano passado. As sucessivas quedas na taxa básica de juros, que caíram de 12,5% ao ano em julho para 11% no fim do ano, deixam as outras aplicações menos atraentes. Isso beneficia a poupança, mas cria um problema para o governo, que se financia com aplicações dos investidores em títulos da dívida pública:
- Em algum momento, o governo terá de mudar a forma de rentabilidade da poupança porque vai criar um problema para a dívida pública. O governo já está estudando essa mudança.
Para o economista-chefe da corretora Prosper, Eduardo Velho, isso não deve acontecer em 2012 por um motivo: é ano eleitoral. E qualquer mudança na poupança - aplicação mais segura, já que o governo garante parte dos depósitos - implicaria um custo político muito alto.
Ao todo, o brasileiro guarda R$420 bilhões na caderneta de poupança. Este é o estoque, de acordo com o BC. Como o saldo cresce normalmente de um ano para o outro, os rendimentos creditados pelos bancos para os correntistas aumentam. Foram de R$21 bilhões em 2010 e chegaram a R$27 bilhões no ano passado.