Título: Chuvas testam garra de Friburgo pela volta por cima
Autor: Araújo, Isabel de
Fonte: O Globo, 06/01/2012, Rio, p. 14/15

Cidade da Região Serrana que tanto sofreu com a enxurrada de um ano atrás já tem setores da economia se recuperando

Para uma região que foi uma das mais castigadas no temporal que matou mais de 900 pessoas na Região Serrana, em janeiro passado, até que Friburgo pode se orgulhar de uma reestruturação constante de sua economia, avalia Claudio Tângari, conselheiro regional da Firjan e diretor da federação no Rio. Observador atento dos acontecimentos pós-tragédia, Tângari informa que a destruição de estradas vicinais e o desabamento de mais de cem pontes na época prejudicaram bastante a logística do setor de floricultura em Friburgo, que já está dando sinais de recuperação. O setor de confecção, que emprega em períodos normais cerca de dez mil trabalhadores, também está se reerguendo.

Hoje, o conhecido mercado friburguense voltou a empregar cerca de 9.800 trabalhadores. E isso após as chuvas terem destruído uma infinidade de tecidos estocados em depósitos totalmente alagados. Mas a recuperação tem sido promissora e, hoje, apenas 200 trabalhadores ainda estão fora desse mercado, uma marca registrada da cidade que sofreu a tragédia em área urbana. Muitas pessoas perderam suas casas e tiveram que se mudar. Isso pode explicar a falta de mão de obra, mais do que de matéria prima.

Friburgo: 41% do mercado de trabalho vem da indústria

Também presidente do Sindicato das Indústrias de Metal Mecânico da região, Tângari observa que Friburgo, embora seja uma tradicional cidade turística, tem 41% de seu mercado de trabalho voltados à indústria. A título de comparação, informa ele, o estado representa 17% do setor no país. A economia de metal-mecânica (fabricação de fechaduras, ferragens para construções, entre outros) tem 35% do mercado na cidade.

- Hoje, 95% dessa importante atividade para a cidade estão com sua atividade normalizada. São 4.500 empregos diretos - diz o especialista da Firjan. - Mas a queda da produção terá impacto na arrecadação, por exemplo, de ICMS.

Graças a recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) da ordem de R$400 milhões e, posteriormente, de R$300 milhões diretamente do governo federal, os municípios atingidos, especialmente os três que mais sofreram (Friburgo, Teresópolis e Petrópolis), apostam na recuperação.

Das três cidades, Friburgo foi a única a ser atingida no Centro.

- A máquina pública não está preparada para agir diante de um cenário como aquele. Perdeu-se aproximadamente um mês de produção. Hoje ainda há bueiros entupidos, e a sirene, quando toca alertando a população, não desperta as autoridades para a abertura dos abrigos - diz ele.

O secretário de Turismo de Teresópolis, Carlos Tucunduva, informou que a recuperação da produção de hortifrutigranjeiros já atingiu 95%. O município é o maior fornecedor do Rio. Ele diz achar que não haverá desabastecimento neste verão, porque as chuvas não atingiram níveis como no ano passado.

Já no Norte e no Noroeste Fluminense, em três dias de enchentes a Secretaria estadual de Agricultura já contabiliza R$850 mil em perdas na lavoura e na pecuária. Da produção de 1.500 mil litros de leite nesse período, 150 mil litros já foram dados como perdidos. Além disso, no Noroeste, o balanço de prejuízos é de 120 toneladas de aipim, 180 toneladas de milho verde, três de feijão, 5,5 de banana, cem de quiabo e 12 toneladas de jiló. Segundo o secretário de Agricultura, Christino Áureo, hoje será montada uma base operacional de emergência em Campos:

- Ela será idêntica à que funciona em Nova Friburgo, e terá núcleos de emergência rural. Assim, totalizaremos 21 equipes de operação no estado, sendo 12 na Região Serrana e nove no Noroeste.