Título: Medidas de estímulos à economia são necessárias, dizem analistas
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Fonte: O Globo, 10/01/2012, Economia, p. 19
TURBULÊNCIA GLOBAL: Defendendo cortes, líderes têm reeleição ameaçada
Maior austeridade fiscal é impopular e insuficiente para Europa sair da crise
Ao mesmo tempo em que houve avanços para a criação de um imposto sobre transações financeiras e a inclusão de mecanismos de controle da disciplina fiscal, os líderes de Alemanha e França ressaltaram, após a reunião de ontem, a necessidade de novos estímulos ao crescimento econômico e à criação de empregos para atacar a crise na zona do euro. Enquanto alguns analistas veem a disciplina fiscal comum como passo necessário, outros destacam que, sem esse "segundo pilar", com foco no crescimento, não será possível sair da crise.
Na avaliação do professor Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia da UFRJ, a aparente incoerência de a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, passarem a dar ênfase também a medidas de estímulo, em paralelo aos pacotes de austeridade fiscal, pode ser considerada normal.
- Os políticos europeus estão pressionados pelas campanhas eleitorais. As oposições estão na frente das pesquisas de opinião. A saída da crise só com medidas de austeridade, recessivas, representa derrota nas urnas - diz Prado.
Já para o professor José Luis Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), as autoridades alemães e francesas sabem que "austeridade sem crescimento não resolve a crise".
Como as possíveis ações citadas por Merkel e Sarkozy passam pela criação de empregos e aumento da competitividade, Oreiro antevê medidas para flexibilizar o mercado de trabalho nos países da periferia da Europa. Segundo o professor, parte do modelo exportador alemão está baseado em acordos - feitos após a reunificação, nos anos 1990 - entre empresariado e sindicatos para, ao mesmo tempo, reduzir o custo relativo da mão de obra (com salários subindo menos do que a produtividade) e controlar o desemprego.
- Ou seja, o plano seria levar o modelo alemão para outros países - aposta Oreiro.
União monetária com desunião fiscal é problema
O desafio, porém, será equilibrar os dois "pilares" - austeridade fiscal e estímulo ao crescimento. Segundo Prado, como esse equilíbrio não é simples, o processo de saída da crise pode ser marcado por diferenças entre discurso e prática.
Segundo Alberto Ramos, economista para a América Latina do banco Goldman Sachs, a disciplina fiscal é fundamental. Nos últimos dez anos, a indisciplina fiscal, aliada ao baixo crescimento, levou a dinâmica das dívidas públicas da zona do euro a um ponto preocupante.
- Dado que é uma união de economias com graus muito diferentes de competitividade, é importante ter maior coordenação e harmonia fiscal na zona do euro. Uma união monetária com desunião fiscal cria as tensões que estamos vendo - explica Ramos.
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, os países da zona do euro estavam atentos aos problemas fiscais nos últimos dez anos, mas faltou coesão política para mexer no "vespeiro de corte de gastos públicos".
- Essa crise é fundamental para fortalecer a zona do euro. A Alemanha ganhou um "presente" para terminar a unificação - diz Perfeito.