Título: Merkel apoia imposto financeiro
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Fonte: O Globo, 10/01/2012, Economia, p. 19

Sarkozy convence chanceler alemã, e líderes da UE discutirão taxa em março

BERLIM e PARIS

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, obteve ontem o apoio da chanceler alemã, Angela Merkel, para a criação de um imposto sobre transações financeiras. O governo da França vem intensificando sua defesa em favor de tal imposto, e Sarkozy afirmou, em seu pronunciamento de 31 de dezembro, que este seria adotado no país. A proposta seguiria o que foi traçado pela Comissão Europeia em setembro: um imposto de 0,1% sobre operações com ações ou bônus, e de 0,01% sobre derivativos, que entraria em vigor em 2014. A taxa ainda será discutida pelos ministros de Finanças e líderes da União Europeia (UE) em março, mas o fato de Merkel e Sarkozy - já conhecidos como "Merkozy" - a defenderem é considerado um grande passo na direção de sua implementação.

- Pessoalmente, posso imaginar tal imposto na zona do euro - afirmou Merkel em entrevista coletiva com Sarkozy em Berlim, referindo-se à hipótese de a taxa não ser adotada por toda a UE. - Nicolas Sarkozy e eu achamos que esse imposto é uma boa resposta à situação.

Estima-se que o imposto arrecade 55 bilhões por ano. Reforçando a posição da França, o premier François Fillon afirmou ontem que o país deve apresentar um projeto de lei sobre o assunto em fevereiro, na esperança de que outros sigam o exemplo. O objetivo seria votar o projeto antes das eleições (o primeiro turno será em abril). Paris também espera que a Berlim adote o imposto logo depois.

- Alguém tem de pular na água primeiro - disse Fillon.

De acordo com a proposta da Comissão Europeia, a taxa visa a que o setor financeiro, visto como um dos grandes responsáveis pela crise financeira global de 2008, contribua para o saneamento das finanças públicas. Além disso, seria uma maneira de desestimular comportamentos de risco.

Para Reino Unido, taxa só se for global

Em Paris, o candidato do Partido Socialista à presidência, François Hollande, disse ao Canal Plus ser favorável ao imposto. Mas criticou Sarkozy por fazer a proposta "algumas semanas antes das eleições".

Mas há críticas dentro da França. Christian Saint-Etienne, conselheiro econômico do premier, acredita que a adoção unilateral do imposto poderia prejudicar a economia francesa. Ele defende que, nesse caso, seria necessário usar uma alíquota simbólica, de 0,001%.

Esse imposto tem clara inspiração na chamada Taxa Tobin, proposta inicialmente pelo economista James Tobin em 1972. Na década de 1990, o movimento antiglobalização assumiu a defesa do imposto, como a única maneira de impor limites à ganância dos mercados financeiros. Na França, foi criada a Attac, organização cujo objetivo é a implantação global da Taxa Tobin.

Na UE, o maior opositor de tal imposto é o Reino Unido. O premier David Cameron, sob o argumento de que tal taxação só funciona se adotada universalmente, disse à rede BBC que será contra "até que o resto do mundo concorde".

Merkel e Sarkozy ainda afirmaram que terão como prioridade estimular o crescimento da economia europeia. Eles disseram que o pacto fiscal da UE, acertado pelo bloco, à exceção do Reino Unido, no mês passado, poderia ser assinado em março. Já um acordo para estabelecer um limite legal para o endividamento poderia ser fechado em janeiro.

Criação de empregos é prioridade

Sarkozy ressaltou que Berlim e Paris compartilham a "mesma análise" da situação corrente: é preciso reduzir a dívida pública, mas que o estímulo ao crescimento e ao emprego deve ser prioridade.

Merkel afirmou que o crescimento e a criação de postos de trabalho devem ser o "segundo pilar" da recuperação, junto com a consolidação fiscal. Ambos ainda anunciaram que será feito um estudo para analisar os diferentes mercados de trabalho da UE, a fim de adotar os exemplos mais bem-sucedidos.

Hoje, a chanceler alemã tem um encontro com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, para discutir a Grécia. No próximo dia 20, Merkel e Sarkozy vão se reunir com o premier italiano, Mario Monti. A Itália, cujo custo para financiar sua dívida ultrapassou os 7%, é vista como uma peça crucial na luta contra a crise na Europa.