Título: Outra chuva, a mesma dor
Autor: Damasceno, Natanael; Daflon, Rogério
Fonte: O Globo, 10/01/2012, Rio, p. 12/13

Deslizamento em Sapucaia, no Centro-Sul Fluminense, deixa pelo menos 8 mortos

Pelo menos oito pessoas - seis adultos e duas crianças - morreram em consequência dos deslizamentos em Jamapará, distrito de Sapucaia, no Centro-Sul Fluminense. O caso mais grave aconteceu na Rua dos Barros, na altura do Km 108 da BR-353, às 3h30m de ontem. Nove casas foram atingidas e 59 famílias ficaram desalojadas. Segundo o Corpo de Bombeiros, ainda há 15 pessoas desaparecidas. O secretário estadual de Defesa Civil e comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, que passou o dia no local, afirmou que a prioridade é encontrar os corpos. Além dessas, já haviam sido registradas outras duas mortes, elevando para dez o total de óbitos no estado em decorrência das chuvas. Segundo a Defesa Civil, o Estado do Rio já tem mais de 10 mil desalojados (pessoas fora de casa) e cerca de 2 mil desabrigados.

Três retroescavadeiras passaram o dia retirando lama da Rua dos Barros. Segundo os Bombeiros, no entanto, o trabalho foi retardado pela grande quantidade de rochas misturadas à terra que desceu do barranco. De acordo com Simões, uma outra retroescavadeira deve chegar ao local hoje para ajudar a quebrar as pedras maiores. Cerca de 30 bombeiros dos destacamentos de Carmo, Teresópolis, Três Rios e Itaipava passaram o dia em busca de corpos.

Entre os mortos de Jamapará foram identificados Luiz Carlos Nassifi, de 40 anos, e sua neta, Ana Maria Costa Bela Nassifi, de 3 anos; o casal Sérgio "Batatinha" e Solange, e seu filho Tiago Carvalho, de 18 anos; Rosiani Gomes Bastos, de 23 anos, e o filho Josiel, de 3, todos num mesmo deslizamento. Em outro ponto da cidade, morreu um homem de 45 anos, identificado apenas como Francisco. A Defesa Civil afirmou ainda que uma família de cinco pessoas que estava dentro de um Fusca pode ter morrido. Segundo testemunhas, o grupo teria ido para o carro com medo de que sua casa desabasse, mas o imóvel permaneceu de pé e o veículo teria sido soterrado.

O prefeito de Sapucaia, Anderson Zanon, disse que todo o distrito de Jamapará está assentado em área de risco. Segundo ele, recentemente foi baixado um decreto que proíbe novas construções e determina que nem a Light nem a Cedae façam serviços em novas ocupações. Ele afirmou ainda que, apesar de o município estar à espera de verbas do governo federal para construção de casas populares, ele pretende pedir ao estado dinheiro para outras unidades.

Ao menos um casal de moradores de Sapucaia - cidade a 165 quilômetros do Rio - perdeu a casa com a cheia do Rio Paraíba do Sul. Gabriela e Vinícius da Silva e seus três filhos se abrigaram na casa da mãe de Vinícius, na Rua dos Barros, e acabaram surpreendidos pelo deslizamento. Eles disseram ter acordado no meio da madrugada com o barulho. Eles tiveram de deixar a casa pela segunda vez em 24 horas.

O Serviço Aeroespacial (Saer) da Polícia Civil utilizou o helicóptero Águia 3 para fazer o resgate de feridos com ajuda de rapel. Além disso, a aeronave transportou equipes do Corpo de Bombeiros, além de mantimentos e água para as vítimas. O Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica enviou legistas e papiloscopistas para auxiliar a identificação dos corpos. Na igreja de Jamapará, próximo ao local onde houve o desabamento, foi montado um miniposto de saúde, a fim de atender moradores e parentes de desaparecidos.

O secretário de Planejamento e Defesa Civil de Sapucaia, Marco Antonio Teixeira, disse que pelo menos 59 famílias (cerca de 150 pessoas) foram retiradas do lugar. A maioria foi levada para casas de parentes, vizinhos e amigos.

A presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, afirmou ontem que o estado vai realizar obras na Região Serrana com parte dos R$320 milhões que o governo federal liberou para o Rio no fim do ano passado. As obras emergenciais - ou seja com dispensa de licitação - custarão cerca de R$100 milhões e incluirão dragagem de rios e contenção de suas margens em municípios da Serra. Do total liberado pelo governo federal, R$70 milhões vão financiar projetos de contenção de encostas, a cargo da Secretaria estadual de Obras.