Título: Dilma e a chance de relançar o governo
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Fonte: O Globo, 10/01/2012, Opinião, p. 6
Convocar reunião de ministros num domingo serve ao menos para ressaltar o sentido de urgência do governo diante das enxurradas de verão no Sudeste. Mas, em certa medida, esta reunião, estendida para segunda-feira, já na presença da presidente Dilma, tem um ano de atraso.
Quando determinou que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, suspendesse a folga de fim de ano e voltasse a Brasília, para administrar a crise deflagrada com a revelação de que o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), privilegiara seu estado, Pernambuco, na liberação de verbas, a presidente também emitiu um sinal positivo. A questão é saber se os gestos se materializarão em ações concretas de um governo com um mínimo de eficiência administrativa. O que não aconteceu no primeiro ano do governo Dilma. Os resultados estão à vista de todos: dinheiro liberado que não chegou, chegou tarde demais ou foi para lugares menos necessitados, em obediência à lógica clientelista e do fisiologismo que plasmou parte do Ministério nestes primeiros 12 meses de gestão. Tanto que o Planalto gastou boa parte do tempo na ação de bombeiro no rescaldo da base parlamentar, em ebulição várias vezes com a saída de ministros apanhados no trabalho de surrupiar dinheiro público para as respectivas legendas - ou destinos mais obscuros. Depois de defenestrados ministros do PR, PMDB, do PCdoB e do PDT - Alfredo Nascimento, Pedro Novais, Wagner Rossi, Orlando Silva e Carlos Lupi -, veio o caso de Fernando Bezerra, do PSB, partido cortejado até pela oposição. Verbas concentradas no estado natal, privilégio a emenda parlamentar de filho - deputado federal Fernando Coelho, do PSB de Pernambuco, é claro -, compõem um quadro clássico sob o signo do lulopetismo. O caso ganhou dimensões especiais, pois tem a ver com o socorro a vítimas de graves acidentes climáticos, castigadas também pelo baixo nível da política praticada no país.
Há, ainda, indícios gritantes da proverbial lerdeza estatal. Um exemplo é o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência e Tecnologia. Foi anunciado em janeiro do ano passado, enquanto se fazia o balanço da catástrofe na Serra Fluminense, mas ainda não funciona em "perfeitas condições", admite Carlos Nobre, secretário do ministério responsável pelo centro. Das 251 cidades listadas para serem monitoradas pelo Cemaden, só 56 o são no momento. E como a lerdeza não é apenas federal, das 75 pontes prometidas pelo governo fluminense, na Região Serrana, só uma foi reconstruída, mesmo assim pela metade: apenas uma pista está aberta ao tráfego.
A presidente, porém, em cuja agenda está prevista uma rodada de mudanças no primeiro escalão, tem a chance de, junto com a troca de nomes, alterar métodos administrativos. O ideal é dar coerência à equipe de ministros, montada sem maiores preocupações com a eficiência, basicamente para servir de moeda de troca no Congresso e período eleitoral. E também seria essencial reduzir o número de ministérios. Como disse o empresário Jorge Gerdau, da Câmara de Gestão, criada por Dilma, "é impossível administrar com 40 ministérios". Emparedada por situações criadas por ministros que não escolheu, Dilma tem a oportunidade de começar de fato seu governo, com o resgate da imagem de administradora que forjou no Ministério de Lula.