Título: Embarque para NY demora 13 horas e meia. Mas isso é só um detalhe...
Autor: Moura, Athos
Fonte: O Globo, 12/01/2012, Rio, p. 17

Passageiros sofrem com festival de desmandos e abandono no Tom Jobim

Athos Moura, Ediane Merola, Emanuel Alencar e Carolina Brígido

Treze horas e 30 minutos de espera, muita desinformação, descaso das autoridades aeroportuárias, revolta. Cerca de 300 passageiros do voo 8087 da TAM (Rio-Nova York) levaram todo esse tempo para embarcar, mas os 30 mil que passam pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim todos os dias continuam submetidos ao suplício e ao festival de desmandos impostos pelas companhias aéreas, pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) - órgão que deveria fiscalizar o serviço - e pela Infraero, a quem cabe gerir os terminais.

A decolagem, prevista para as 23h05m de anteontem, só aconteceu às 12h30m de ontem. A TAM primeiro atribuiu o atraso à demora na entrega dos alimentos que seriam servidos durante a viagem. Depois, alegou estouro da carga horária da tripulação. Em meio às informações desencontradas, e depois de horas sem comer, os passageiros do voo 8087 não achavam sequer lanchonetes abertas. Como a TAM tampouco disponibilizou hotel para acomodar seus clientes, a solução foi acampar, com as malas, no saguão.

- O restaurante só abriu às 6h. Havia crianças, idosos. Às 3h da madrugada, um funcionário da companhia informou que não havia hotel para acomodar os passageiros. Passamos a noite acampados no aeroporto - protestou a passageira Carla Costa.

Por lei, após duas horas de atraso, é obrigação da empresa aérea fornecer comida aos clientes, e, após quatro horas, hospedagem. Contudo, nada disso foi providenciado, segundo os passageiros. No meio da madrugada, foi informado a eles que o voo decolaria às 11h de ontem, com 12 horas de atraso. O que não ocorreu. Todos tiveram que refazer o check-in e despachar novamente as bagagens. Mas os atendentes da TAM marcaram os assentos do novo voo aleatoriamente, sem respeitar as escolhas iniciais.

- O atendente ainda nos disse que, caso não aceitasse a opção de viajar separado da minha família, teria o direito de não embarcar. A empresa prefere continuar errando - reclamou o médico Marcelo Caldeira, de 49 anos.

O produtor de cinema Rômulo Marinho, que viajava a Nova York para participar do pré-lançamento do filme "Lula, o filho do Brasil", resolveu procurar o guichê do Tribunal de Justiça no aeroporto. Mas, para seu azar, o sistema estava fora do ar e ele não conseguiu dar entrada numa ação contra a TAM.

O advogado Paulo Franco e sua filha de 12 anos fizeram o primeiro check-in às 19h. Ele criticou a falta de um posto da Anac no aeroporto.

Em nota, a TAM informou que o cancelamento do voo foi causado pelo atraso na entrega do serviço de bordo. Segundo a companhia, esse foi o primeiro dia da empresa contratada e houve problemas de logística. Sobre a falta de apoio aos passageiros, a empresa disse que, por volta das 5h30m, foi servido um café da manhã.

A Anac, por sua vez, informou que notificou a TAM sobre o atraso do voo. O órgão quer agora saber quais foram as providências adotadas e quer comprovação da assistência prestada aos passageiros. Já a Infraero informou que vai investigar o porquê de os restaurantes não terem funcionado - uma exigência do contrato. O TJ apenas admitiu que houve uma pane no sistema de informática.