Título: O aeroporto que dorme no ponto
Autor: Moura, Athos; Santos, Rafaela
Fonte: O Globo, 13/01/2012, Rio, p. 12

Lojas 24h fechadas de madrugada são só mais um detalhe do caótico Galeão

Chegar ao Rio num voo a altas horas da noite é de assombrar qualquer um: com lojas fechadas e aspecto de abandono, o Tom Jobim mais parece um aeroporto fantasma. No terminal 1, onde funciona o AeroShopping, todos os estabelecimentos estavam com as portas arriadas ontem de madrugada. Até mesmo o guarda-volumes, cujo letreiro diz funcionar 24 horas por dia, estava fechado. No segundo andar do terminal 2, apenas uma lanchonete da praça de alimentação estava aberta.

A falta de serviços pegou de surpresa o estudante argentino Nicolas Santoro, de 24 anos, que veio de Buenos Aires com dois amigos, já com um pacote pago de 18 dias de aluguel de carro: ao desembarcar, no início de madrugada, ele encontrou o guichê da locadora de veículos fechado. E nem adiantava recorrer a uma concorrente: todas as empresas estavam inoperantes.

- O meu primeiro momento no Brasil é de dor de cabeça. Liguei para a central da empresa e me informaram que a atendente tinha ido à farmácia. Mas isso já faz mais de uma hora - contou o argentino.

Escadas rolantes e elevadores parados

A servidora pública Patrícia Laura Correia, de 48 anos, e o marido, o técnico em informática Francisco Paulo Ferreira, de 48, também tiveram problemas. O casal foi ao aeroporto levar o filho, que embarcaria para o Japão no terminal 2. Após o check-in, a família procurou um restaurante aberto, mas não encontrou, e o jovem viajou de estômago vazio. O casal só foi encontrar um restaurante aberto no terceiro andar do terminal 1.

- De noite e de madrugada, nada funciona aqui no aeroporto - reclamou Patrícia. - No ano passado, antes de viajar, precisei comprar um casaco, mas todas as lojas estavam fechadas. Desta vez o problema foi com o meu filho, que viajou com fome.

De manhã, o aeroporto voltou a ficar movimentado. Mas os problemas não acabaram - somente trocaram de horário. Havia filas para embarque e lanchonetes cheias. Nesse cenário, elevadores parados e escadas rolantes quebradas causavam grande transtorno aos passageiros.

Entre os dois terminais, uma esteira não estava funcionando. No terminal 1, duas escadas rolantes também estavam paradas e, numa terceira, funcionários de uma empresa terceirizada faziam trabalhos de manutenção. No mesmo terminal, dois elevadores estavam fora de operação.

Se de madrugada os banheiros exalavam forte cheiro de urina, no início da manhã, com o número maior de faxineiras, os sanitários estavam sendo limpos. No estacionamento do terminal 1, mais problemas: oito veículos estavam sobre a calçada. De cinco carros estacionados em vagas de deficientes, quatro não tinham o adesivo autorizando o uso do espaço.

Tantos problemas levaram o piloto de avião Alberto Noleto, de 29 anos, a concluir que a taxa de embarque paga por todos os passageiros - R$19,62 para voos domésticos e R$68,74 para internacionais - não é investida da forma adequada no aeroporto, que este mês completa 34 anos.

- A infraestrutura daqui é muito ruim - afirmou.

A Associação dos Concessionários Aeroportuários do Rio (Acap-RJ) disse, em nota, que existem lanchonetes e restaurantes funcionando 24h no aeroporto. A nota diz que "a carência de maiores opções aos passageiros está diretamente ligada, dessa forma, ao fato de a Infraero não cumprir com a sua parte em relação à renovação dos contratos dos lojistas e, além disso, não realizar as licitações previstas para ampliar o atendimento".

O superintendente de Gestão Operacional da Infraero, Marçal Goulart, informou que reunirá todos os concessionários para que as lojas se programem para abrir as portas de acordo com o movimento de passageiros de madrugada. Ele também disse que, até 2014, todos os 48 elevadores dos dois terminais serão substituídos por novos, num investimento de R$12,4 milhões. O mesmo acontecerá com 80% das 60 escadas rolantes (R$14 milhões). Já para combater as infrações nos estacionamentos, a Infraero está "aperfeiçoando" parcerias com a CET-Rio e a Guarda Municipal.