Título: Fraude em postos de gasolina furta até 12% do combustível do consumidor
Autor:
Fonte: O Globo, 09/01/2012, Rio, p. 13

Reportagem exibida pelo "Fantástico" flagra, no Rio, o pior caso da farsa

Um sofisticado equipamento instalado em bombas de combustível vem enganando consumidores do Rio, como mostrou ontem uma reportagem do "Fantástico", da Rede Globo. A equipe do programa, que também passou por São Paulo e Curitiba, encontrou na capital fluminense o pior caso, no qual um posto não identificado chega a reter 12% da gasolina que deveria abastecer um carro popular - ou seja, de 50 litros, seis não são fornecidos ao veículo.

Além disso, um laboratório testou a quantidade e a qualidade do combustível de 11 postos do Rio, e foram detectados problemas em todos.

Para revelar a fraude, o "Fantástico" usou um tanque especial na mala de um carro. Sem o frentista saber, a gasolina que entrava no veículo enchia esse tanque, de 20 litros. O reservatório era, então, levado para o laboratório, que media a quantidade em outro recipiente. A margem de erro permitida em lei é de 0,1 litro. Mas, no posto do Rio onde foi feito o maior flagrante, de 20 litros marcados na bomba, 2,4 litros não chegaram ao carro. Em outro posto da cidade, 2,3 litros, também de um total de 20, foram furtados.

Posteriormente, um repórter, identificando-se como da TV Globo, retornou aos dois locais e pediu uma medição com um recipiente aferido pelo Inmetro. Mas, como a fraude é armada e desarmada por controle remoto, desta vez, a farsa não voltou a ocorrer.

O "Fantástico" mostrou como funciona a fraude. Uma placa instalada nas bombas diminui a pressão do combustível, causando uma diferença entre a quantidade fornecida e aquela registrada no marcador. O controle remoto é semelhante ao usado em garagens, tornando a farsa quase impossível de ser percebida pelo consumidor.

O jornalista Eduardo Faustini se passou por dono de posto em Curitiba e, com uma câmera escondida, gravou uma conversa com o empresário Cléber Salazar, responsável por negociar a tecnologia com postos da capital do Paraná. O empresário diz que o esquema tem apoio de pessoas de "alto escalão" e avisa que, graças a isso, em três meses, o posto "tá pago".

Ele chama o consumidor de "tiozinho" e explica ao repórter que, quando um motorista quiser verificar a bomba, basta desligar a placa por controle remoto. Salazar chega a cobrar R$90 mil do jornalista para instalar a placa em 18 mangueiras.

Depois, ao ser procurado pelo repórter André Luiz Azevedo, o empresário de Curitiba, que é dono da empresa de manutenção SS Bombas, negou seu envolvimento com a fraude.

Procurado pelo "Fantástico", o fiscal da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Paulo Iunes explica que a fraude é difícil de ser detectada e que é preciso uma ação envolvendo a agência, a polícia e o Inmetro. O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustível pediu mais rigor na fiscalização. O diretor do Inmetro Luiz Carlos dos Santos disse que o instituto vem desenvolvendo tecnologia que identifica o rastro da fraude.