Título: Vítima era do Lago Sul
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 05/09/2009, Brasil, p. 12

Correio obtém com exclusividade atestado de óbito que confirma morte de empregada doméstica em decorrência de complicações causadas pelo vírus H1N1

A subsecretária Disney Antezana acredita que o Hospital de Santa Maria ajudará a desafogar a demanda no DF

Dezessete dias depois de ficar internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional de Samambaia, a empregada doméstica Aparecida Alves Pereira, 26 anos, morreu às 16h30 de quinta-feira em virtude complicações da influenza A (H1N1), mais conhecida como gripe suína. Apesar de a Subsecretaria de Vigilância à Saúde não confirmar o óbito da paciente como sendo o terceiro caso fatal da enfermidade no Distrito Federal, o Correio obteve com exclusividade uma cópia do atestado de óbito de Aparecida (leia fac-símile), que aponta a nova gripe como a causa do falecimento.

Ainda abalada com a morte de sua funcionária, a servidora pública Bárbara Nascimento, 40 anos, denuncia que Aparecida só tomou o Tamiflu (fosfato de oseltamivir), remédio indicado ao tratamento da gripe, quatro dias depois do aparecimento dos primeiros sintomas, quando o recomendado é o início do tratamento em até dois dias após o surgimento das características da enfermidade. ¿Ela só começou a ser tratada em 16 de agosto à tarde, sendo que foi atendida no Hran (Hospital Regional da Asa Norte) pela primeira vez no dia 12¿, conta. Nessa mesma data, a doméstica teria realizado um exame que constatou pneumonia. ¿Mas só receitaram paracetamol e amoxicilina. Nada de Tamiflu.¿

A peregrinação de Aparecida ainda continuaria nos dias seguintes. Em 14 de agosto, seu estado piorou e ela voltou ao Hran, onde ficou numa maca, na enfermaria. Com o agravamento do quadro e a necessidade de um leito na UTI, que não estava disponível no Hran, a doméstica foi transferida no dia 17 ao Hospital Regional de Samambaia. Lá, já em estado grave, ela morreu 17 dias depois de ser internada.

Maranhense de Fortuna, Aparecida trabalhava há 3 anos na casa de Bárbara, no Lago Sul. Solteira, a doméstica deixa dois filhos: Renned, 6 anos, e Ruan, 4.

Novos casos Além de três mortes, a Subsecretaria de Vigilância à Saúde confirmou ontem 84 novos casos da enfermidade no DF, elevando para 384 o total de infectados pela gripe na capital. ¿Os 40 leitos inaugurados no Hospital de Santa Maria devem amenizar a falta de UTIs na cidade não só para a nova gripe, como também para outros casos onde é imprescindível o atendimento especial¿, afirma Disney Antezana, subsecretária de Vigilância à Saúde.

H1N1 já matou 2,8 mil, diz OMS

» O vírus H1N1 já matou pelo menos 2.837 pessoas em todo o mundo, segundo afirmou ontem a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 250 mil casos foram confirmados, mas o número real é superior, pois a agência deixou de solicitar a notificação de ocorrências individuais, passando a monitorar apenas as mortes em decorrência da enfermidade. A agência, vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU) também garante que não detectou mutações no micro-organismo, o que poderia intensificar sua letalidade. Com 657 mortes, o Brasil continua campeão mundial em números absolutos de óbitos causados pelo vírus H1N1, à frente dos Estados Unidos (556), Argentina (465), México (193) e Austrália (155).