Título: Alívio no Planalto com taxa dentro da meta
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 07/01/2012, Economia, p. 30

Com índice ainda alto, comemoração é contida. Barbosa vê percentual abaixo de 5% este ano

Gerson Camarotti, Martha Beck e Gabriela Valente

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto recebeu aliviado a notícia de que o IPCA fechou 2011 dentro do teto da meta, de 6,5%. A ordem interna foi de evitar os "foguetes", nas palavras de um interlocutor da presidente Dilma Rousseff, porque, mesmo assim, a inflação foi a maior desde 2004. O resultado serviu de chancela para a ação do governo de começar a cortar juros em agosto, antes mesmo de a inflação desacelerar. Na ocasião houve forte reação do mercado, que apostava na inflação acima de 6,5%.

A equipe econômica limitou-se a dizer que o resultado do IPCA já era esperado. Segundo o ministro da Fazenda em exercício, Nelson Barbosa, o dado mostra que os índices já estão em queda e que o IPCA deve fechar o ano abaixo de 5%. Já o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse, por meio de nota, que a inflação seguirá recuando e se deslocando em direção à meta.

Nos bastidores, os técnicos admitem a forte preocupação que pairava na Esplanada dos Ministérios com o risco de descumprimento da meta de 2011. Não estava descartada a necessidade de uma carta pública ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Quem acompanhava Tombini no momento em que o IBGE divulgou o IPCA disse que ele comemorou, mas em seu estilo discreto, por saber que a inflação no Brasil ainda é alta e há muito a ser feito para empurrar o índice para 4,5% em 2012.

Para o núcleo palaciano, a partir do resultado os críticos do mercado não terão munição para atacar a política monetária do primeiro ano do governo Dilma. Ontem, o desempenho de Tombini foi elogiado no Planalto. Um interlocutor da presidente disse que há uma sintonia fina raramente vista entre um presidente e a autoridade monetária desde a redemocratização.

Nos últimos dias, o medo de superar o teto da meta havia tomado conta do governo, que já havia montado argumentação legal, encomendada ao senador Lindbergh Farias (PT-RJ), para o caso de se precisar arredondar para baixo o resultado, se a meta fosse superada em milésimos.

No Planalto, estava claro que a necessidade de enviar uma carta para a Fazenda justificando a inflação causaria desconforto para Tombini, que havia sido muito questionado sobre a possibilidade de sofrer pressão política palaciana ao longo dos últimos meses para baixar juros.