Título: Estratégia do governo para conter avanço da inflação custou R$122 bi
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 07/01/2012, Economia, p. 30

IPCA ficou no teto da meta graças a cortes, isenções e restrições ao crédito

BRASÍLIA. A estratégia do governo para conter as pressões inflacionárias em 2011 custou ao país, pelo menos, R$122 bilhões. Metade desse valor veio de ações como a economia adicional de R$60 bilhões no Orçamento federal (o que inclui a contenção de gastos como investimentos e concursos públicos, além de aumento de receitas) e de isenções fiscais de quase R$1 bilhão para a linha branca, massas e pães, o que fez os preços caírem. A outra metade veio de medidas de restrição ao crédito que começaram a ser adotadas pelo Banco Central (BC) ainda no fim de 2010 para arrefecer o consumo, como o aumento dos depósitos compulsórios e dos juros.

Em 2011, o governo contou com o câmbio como aliado para conter a inflação. A equipe econômica calibrou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em diversas ocasiões para evitar que uma entrada excessiva de dólares derrubasse a cotação da moeda americana. Dessa forma, o governo buscou regular o mercado de câmbio sem precisar recorrer a medidas extremas que elevassem o valor do dólar, prejudicando o combate à inflação.

Em setembro de 2011, quando o dólar se valorizou e a cotação chegou a R$1,90, o BC imediatamente interveio no mercado e passou a fazer leilões de moeda para evitar a disparada do dólar. Para o setor exportador, o patamar de equilíbrio do câmbio, para dar mais competitividade aos produtos nacionais frente aos importados mais baratos, ficaria situado entre R$2 e R$2,20. Mas, segundo o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti, o governo não deixará que isso ocorra:

- O governo usa claramente o câmbio para conter a inflação.

Isenções fiscais ajudaram a reduzir preços de produtos

As isenções, anunciadas no último trimestre de 2011, não eram necessariamente para combater a inflação, mas acabaram sendo fundamentais para deixar o índice na meta. A desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca - fogões, geladeiras, tanquinhos e máquinas de lavar - custou R$164 milhões, enquanto a de PIS/Cofins para pães, trigo e massas provocou uma perda de R$812 milhões aos cofres públicos.

Estas desonerações vieram para aquecer a economia estagnada no terceiro trimestre, aumentando o consumo. O governo inverteu, desse modo, a política adotada no início de 2011, quando elevou os juros básicos da economia e fez ajustes fiscais para desacelerar a superaquecida economia e evitar uma explosão da inflação. Com isso, o ritmo de crescimento anual da economia recuou de 7,5% para algo em torno de 3% - o que acabou obrigando os técnicos a suprimirem parte das ações de combate à alta de preços.

As reduções ajudaram o governo, no apagar das luzes de 2011, a fazer o IPCA fechar o mês de dezembro em 0,50%, valor necessário para que o índice do ano ficasse exatamente no teto da meta, de 6,5%.

A economia de R$60 bilhões veio do corte de gastos anunciados pelo governo ainda no início de 2011, no valor de R$50 bilhões, e do aumento de R$10 bilhões na meta de superávit primário (a diferença entre receitas e gastos do setor público). Esse ajuste enxugou despesas, sobretudo com investimentos, que recuaram quase 3% até novembro. Esses gastos somaram R$38,8 bilhões no período, contra R$39,8 bilhões em 2010.