Título: Inflação sob medida
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 07/01/2012, Economia, p. 29

IPCA sobe 0,50% em dezembro e fecha 2011 em 6,50%, no teto exato da meta

Fabiana Ribeiro, Henrique Gomes Batista e Daniel Haidar

A inflação em 2011 ficou cravada em 6,50% - ou exatamente 6,4994% no ano passado. Ou seja: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo IBGE, não rompeu o teto da meta fixada pelo governo de 6,5%, como projetavam analistas de mercado. Um feito possível porque a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - que incide sobre alguns bens de consumo duráveis como fogão, geladeira e máquina de lavar - implementada pelo governo federal ajudou a conter a inflação. Ainda assim, o IPCA de 2011 é o maior desde 2004, quando ficou em 7,60%. Em dezembro, o índice se situou em 0,50%. Para especialistas, os preços devem se comportar melhor em 2012 em resposta à economia brasileira mais fraca e ao cenário mundial ainda de incertezas.

- A redução do IPI dos eletrodomésticos foi muito importante para fazer com que a taxa (de inflação) fechasse a 6,50%. Foi fundamental. Isso levou o grupo de artigos de residência a não variar em 2011, ao contrário do que ocorreu em 2010, com alta de 3,53% nos preços. Esse comportamento é um efeito claro da redução do IPI - afirmou Eulina Nunes, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

O que ditou o comportamento dos preços em 2011, porém, foi o mercado de trabalho, resumiu Eulina. Não por acaso os itens que mais subiram no ano passado foram refeição fora de casa (10,49%), empregado doméstico (11,37%) e colégios (8,09%), serviços influenciados por aumento de renda.

- A economia aquecida provocou uma demanda mais forte, afetando bastante o comportamento dos preços. A inflação de 2011 foi provocada por um mercado de trabalho melhor e por mais renda - afirmou Eulina.

Os alimentos - um dos vilões do IPCA - ficaram 7,18% mais caros em 2011. Os preços subiram numa velocidade menor que em 2010 (10,39%). Problemas de safra em outros países e consumo interno forte ajudam a explicar as altas, que foram atenuadas pela menor demanda internacional.

- Ainda que os preços de alimentos e bebidas tenham crescido menos, o grupo foi o que exerceu o maior impacto no ano. E boa parte por causa da alimentação fora de casa, que subiu 10,49%. Com mais emprego e mais renda, as pessoas acabam sendo obrigada a comer mais fora de casa, e isso naturalmente gera mais pressão nos preços - disse Eulina.

Os serviços em 2011 encareceram ainda mais em 2011. O grupo subiu 9,39% ano passado, mais do que em 2010 (8,15%). Entre as altas estão itens como aluguel (11,01%), mão de obra (9,56%), cursos (8,09%) e cabeleireiro (9,88%).

- Um terço do IPCA veio dos serviços. Só o anúncio do reajuste de 14% do salário mínimo já fez subir mais os preços do grupo. Além disso, a classe C vem demandando por mais e novos serviços - destacou Eulina.

Economistas do mercado também esperam uma trégua da inflação em 2012, mas, ao menos, no início deste ano, as projeções - captadas no boletim Focus do BC - indicam reajustes mais fortes de preços. O centro das projeções para o IPCA de janeiro é de 0,59% e de 0,60% em fevereiro. Só é esperada queda a partir de março. A expectativa do mercado é que este ano termine com IPCA em 5,32%

Segundo Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, o resultado deve provocar uma revisão para baixo do IPCA de 2012 e vai reforçar a ideia de que os juros podem ficar em um dígito este ano - até pelo fraco desempenho da produção industrial (que subiu apenas 0,4% este ano até novembro). Após o índice subir para 0,50% em dezembro, ele projeta uma taxa perto de 0,60% em janeiro.

Alta maior que em outros países

Como no Brasil, a inflação também desacelerou em outros países. Mas nem todos conseguiram ficar dentro da meta. Segundo Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a subida menor dos preços aconteceu por motivos diferentes: em outros países, ela arrefeceu pela crise global; no Brasil ela cedeu pela redução da atividade doméstica. Levantamento realizado por ele em 28 países aponta que em 15 deles, como México e Canadá, a inflação ficou dentro da meta. Em outros 13, como China, Chile, Turquia e Reino Unido, ela ficou acima do teto fixado:

- O Brasil tem uma meta e uma banda muito larga, na comparação internacional. E, mesmo com a previsão de queda da inflação em 2012, ela deverá ser maior aqui que em outros países. Nossa economia é muito fechada e há uma cultura de indexação ainda muito presente. A inflação aqui é muito persistente.