Título: Do front para a retaguarda
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 05/09/2009, Brasil, p. 13

Gestantes do Executivo são remanejadas para evitar contato com o público. Especialista defende que medida contemple também outros grupos de risco

Grávida de seis meses, Emilly foi remanejada na Previdência Social, mas diz que ainda tem medo de se infectar

Todas as servidoras, funcionárias terceirizadas e estagiárias do Executivo federal que estão grávidas foram remanejadas do atendimento ao público para serviços de retaguarda. A medida, válida desde o início da semana, foi adotada pela União como prevenção à disseminação da influenza A (H1N1) entre as gestantes, consideradas grupo de risco para a enfermidade. Assinada pelo secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, a norma tem vigência até o fim de setembro.

Publicada na segunda-feira, a Orientação Normativa Número 3 prevê que as grávidas devem ser afastadas do atendimento ao público imediatamente. A decisão, segundo comunicado da pasta, levou em conta que as gestantes apresentam maior risco de complicações ocasionadas pela gripe suína. O texto ainda autoriza a licença para tratamento de saúde ou afastamento em caso de parecer médico. O Executivo federal possui na ativa cerca de 240 mil servidoras (veja quadro), sem contar estagiárias e terceirizadas. No entanto, não tem estatísticas sobre o número de grávidas.

Ainda que avaliada como uma medida de bom senso por José David Urbaez, médico especialista em infectologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a norma deveria ser ampliada. ¿É interessante pelo fato de evitar o contato das gestantes com grande fluxo de pessoas que procuram os serviços públicos, onde, provavelmente, estejam alguns infectados. Mas, assim como as grávidas, deveriam ser remanejados os hipertensos, cardiopatas e portadores de doenças crônicas¿, diz, referindo-se a outros grupos de risco que costumam apresentar complicações severas quando infectados pelo H1N1.

Alívio Um mês antes de a norma do Ministério do Planejamento ser publicada, a Previdência Social divulgou circular interna anunciando a possibilidade de troca de postos para funcionários e do afastamento das trabalhadoras gestantes, em caso de pedido médico. A técnica do seguro social Emilly Trindade, 22 anos, grávida de seis meses, submeteu-se a perícia médica para conseguir o remanejamento. Ainda assim, não se sente segura. ¿Preferia estar em casa. Acho que estaria mais protegida. Tenho medo e estou tomando todos os cuidados¿, afirma a moradora da Vila Planalto, que trabalha na agência do Setor Bancário Norte.