Título: Alerta mínimo contra enchentes
Autor: Góes, Bruno
Fonte: O Globo, 07/01/2012, O País, p. 3

Centro de monitoramento de R$14 milhões só cobre 20% dos locais com alto risco de desastre

Apenas um em cada cinco municípios com risco elevado de desastres naturais é supervisionado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. De 251 cidades, 56 contam com a análise e mapeamento dos possíveis riscos para as populações locais.

Anunciado como uma das soluções para a prevenção das chuvas em janeiro de 2011, quando o ministro Aloizio Mercadante estabeleceu como meta colocar o centro para funcionar plenamente até 2014, atingindo os 251 municípios, o Cemaden ainda não funciona em "perfeitas condições", como reconhece o secretário que responde pelo órgão no Ministério de Ciência Tecnologia, Carlos Nobre.

No ano passado, segundo o secretário, foram gastos aproximadamente R$14 milhões para a implantação do centro. Anteontem, a presidente Dilma Rousseff liberou um crédito adicional de R$6 milhões ao Cemaden para o ano de 2012. O órgão tinha um orçamento de pouco mais de R$50 milhões para poder investir este ano. Agora, essa quantia aumenta e, de acordo com as contas de Nobre, ainda pode chegar a R$60 milhões. Ele prevê que esse incentivo adicional servirá para a compra de novos radares metereológicos.

Cobertura só atinge Sul e Sudeste

O Cemaden só começou a funcionar no fim de 2011, dez meses após ser anunciado pelo governo, em meio ao socorro às vítimas da tragédia da Serra fluminense. Ao todo, foram contabilizados 800 municípios com risco de desastres, mas só os mais críticos devem ter a cobertura em três anos. Por enquanto, as 56 cidades monitoradas estão apenas nas regiões Sul e Sudeste. A expectativa do Cemaden é, ainda este mês, abarcar 34 cidades do Nordeste.

- Ele de fato começou a funcionar em novembro. No começo do ano, a presidente nos recomendou melhorar a capacidade de prevenção de desastres no Brasil. E nós estamos desenvolvendo um monitoramento moderno. Conseguimos montar o centro antes das chuvas de verão - disse Carlos Nobre.

O centro foi estabelecido em Cachoeira Paulista (SP), no campus do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e emite entre cinco e dez sinais de alerta diários para o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), subordinado ao Ministério da Integração Nacional. Este, por sua vez, entra em contato com coordenadorias estaduais de Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar para passar as informações reunidas.

- Começamos em regime parcial, e, no dia 2 de dezembro, o centro começou a funcionar 24 horas por dia. Isso foi possível porque conseguimos contratar 75 pessoas, através de concurso. São geólogos, hidrólogos e especialistas em desastres naturais. A equipe tem ao menos 15 doutores, e estamos fazendo um trabalho bastante detalhado - disse Nobre, que promete inaugurar uma "sala de situação" na próxima semana.

Carlos Nobre explica que os alertas são de três tipos: moderado (quando as autoridades devem ficar em estado de atenção); alto (quando a atenção deve ser elevada, e os riscos, estudados pela Defesa Civil); e muito alto (situação em que a Defesa Civil já precisa botar em prática planos de contingência). Os alertas indicam quais bairros podem precisar de mais trabalho da Defesa Civil.

O Cemaden usa diversas fontes para compor um quadro de risco de um determinado município. As previsões meteorológicas são feitas pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe). Dados do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (Inmet), do Ministério da Agricultura, e informações de radares meteorológicos (da Aeronáutica e de outros espalhados por estados) também são usados.

Ouro Preto recebeu aviso de riscos

Castigada pelas chuvas nos últimos dias, Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, não está entre as cidades de maior risco e não é monitorada pelo Cemaden. Embora a Defesa Civil do município receba alertas do Cenad, não há produção de informações necessárias ao planejamento de ações contra desastres naturais.

Ontem, às 10h30m, o Cemaden enviou ao Cenad um alerta de alto risco de deslizamento em Ouro Preto. A mensagem apontava as áreas de maiores riscos em um mapa. Por causa do acúmulo de 159mm de chuvas nos últimos quatro dias, a Defesa Civil de Ouro Preto foi mobilizada.

- O Cenad nos avisou. Foi um volume de chuva muito grande e ter essa informação é importante. Já tivemos que tirar muita gente de suas casas - disse Silvânia da Silva Corrêa Maia, técnica operacional da Secretaria de Defesa Civil de Ouro Preto.