Título: Nicolas Sarkozy pede coragem e sangue-frio à população francesa
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Fonte: O Globo, 16/01/2012, Economia, p. 17
Presidente não fala de rebaixamento mas diz que crise é grave e promete reformas
AMBOISE, França, PARIS, ATENAS e LONDRES. O presidente Nicolas Sarkozy pediu ontem coragem e sangue-frio à população e afirmou que a França pode superar a crise com reformas. Ele ainda prometeu fazer um pronunciamento à nação no fim do mês sobre o assunto, durante uma cerimônia na cidade de Amboise marcando os cem anos de nascimento de Michel Debré, pai da atual Constituição francesa. Mas, dois dias depois do rebaixamento da nota da França pela Standard & Poor"s (S&P), Sarkozy não comentou diretamente o ocorrido.
- Desde 2008 atravessamos essa crise sem precedentes, e eu escolhi dizer a verdade aos franceses sobre a gravidade da crise. Eu lhes disse que se tratava de um sério desafio que não se deveria subestimar nem dramatizar em excesso - disse Sarkozy. - É um desafio que é preciso enfrentar. É preciso resistir, é preciso lutar, é preciso mostrar coragem, é preciso ter sangue-frio. Não se responde a uma crise como essa com agitação, com raiva.
BNP Paribas: rebaixamento "não é um drama nacional"
Mesmo apelando para a coragem dos franceses a fim de enfrentar a crise, Sarkozy não citou a decisão da S&P nem rebateu as críticas da oposição, de que o rebaixamento seria das políticas do governo, não do país. Com o primeiro turno das eleições presidenciais em abril, os demais candidatos voltaram a artilharia contra Sarkozy, culpando-o pelo rebaixamento.
Já o primeiro-ministro, François Fillon, voltou a criticar o candidato socialista à Presidência, François Hollande. Em entrevista ao "Journal du Dimanche", Fillon disse que Hollande deveria apresentar seu programa à S&P. "Seria interessante saber o que uma agência de classificação pensa de um programa no qual só há aumento de despesas e alta de impostos".
Mostrando otimismo, o diretor-executivo do BNP Paribas, Jean-Laurent Bonnafé, acredita que a França pode recuperar a nota "AAA" em cinco anos, se mantiver um crescimento anual de 2%. Mas ele ressaltou que esse não deve ser um objetivo em si.
Em entrevista publicada pelo "Journal du Dimanche", Bonnafé disse que o rebaixamento mostra que nada está garantido - a França era "AAA" desde 1975. "Não é um drama nacional", afirmou.
Para o executivo do BNP Paribas, o rebaixamento ressalta a distância entre as economias francesa e alemã. Ele disse que é preciso estimular o crescimento e reduzir os gastos públicos. Sobre o papel das agências, que vem sendo questionado desde o início da crise financeira global, Bonnafé disse que elas "têm o papel que lhes damos". Mas admitiu que avaliar Estados é mais díficil que empresas, já que envolve questões de governança. "Quando os Estados Unidos foram rebaixados em agosto, foi sobretudo por um problema de governança".
"Um triplo zero para as agências", diz candidato
O rebaixamento de vários países europeus por uma agência americana mexeu com os brios nacionalistas do continente. Jean-Luc Mélechon, candidato à Presidência da Frente de Esquerda, reuniu ontem cerca de 300 manifestantes em frente aos escritórios da S&P em Paris. Foi o terceiro protesto.
- Um triplo zero para a Moody"s e para a Standard & Poor"s - bradou Mélenchon.
Em visita a Atenas, o ministro de Finanças alemão, Guido Westerwelle, afirmou ontem que chegou o momento de a Europa criar agências de classificação independentes.
E até o Reino Unido, que não foi alvo de revisão pela S&P, manifestou-se sobre o rebaixamento. O ministro das Relações Exteriores, William Hague, disse ontem que a decisão da S&P mostra que a Europa precisa acelerar seus esforços em prol do crescimento econômico.
- Isso é sério. Mostra que a zona do euro não superou seus problemas. Queremos que o bloco fique estável, mas isso significa que em toda a Europa, incluindo o Reino Unido, precisamos redobrar nossos esforços para obter crescimento - disse Hague ao canal Sky News.
O chanceler disse ainda que o governo britânico já traçou planos de contingência para diversos cenários na zona do euro. Mas não confirmou notícias de que haveria um plano para ajudar cidadãos britânicos morando na zona do euro no caso de um colapso da moeda única.
Já o diretor-executivo do banco americano JPMorgan, Jamie Dimon, disse ao jornal alemão "Die Welt" que a Europa é hoje a maior ameaça à economia global.