Título: Mantega prevê crescimento de 5% em 2010
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 05/09/2009, Economia, p. 17

Em Londres, ministro garante que a crise financeira ficou para trás e que o Brasil registrará expansão de 2% no segundo semestre

O minstro da Fazenda, Guido Mantega, previu ontem, em Londres, que o Brasil registrará um crescimento de 1,8% a 2% no segundo trimeste em relação aos primeiros três meses deste ano. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de abril a junho será divulgado semana que vem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mantega acredita que a economia do país crescerá 1% do PIB este ano. Mas deverá registrar expansão de 5% em 2010. ¿As medidas adotadas no Brasil tiveram efeito e o país foi um dos primeiros a sair da recessão¿, disse, referindo-se à crise financeira mundial . Na capital inglesa, ele participa hoje do encontro de ministros de Finanças do G-20, grupo dos países em desenvolvimento.

Mantega assegurou que a crise financeira mundial ficou para trás e o Brasil retomou o ritmo do crescimento. Segundo ele, a performance brasileira contrasta com a dos países de economia mais avançadas, que, agora, é que começam dar sinais de recuperação de maneira lenta e gradual.

Embora não acredite que seja possível uma recaída da economia mundia, hoje, no encontro do G-20, o ministro insistirá na intervenção dos governos na economia até que esteja consolidada a recuperação global. Mantega reconhece que esse processo de recuperação terá pulsações diferentes, vai revelar que os países avançados são os mais debilitados e que o crescimento mundial será estimulado pelos emergentes. ¿Quem vai puxar o crescimento somos nós. Pode haver um ou outro país europeu que ficará melindrado, aborrecido. Isso não vai impedir que o G-20 se torne a instituição mais importante da economia mundial¿, afirmou.

Reformas no FMI

O ministro adiantou que Brasil também apresentará uma proposta de regulamentação do sistema financeiro internacional. ¿Não se consolidou ainda uma nova arquitetura com regras mais claras, com limites para a ação do capital especulativo. O Brasil já tem isso e eu vou apresentar uma proposta de como ter isso em escala internacional.¿

De acordo com Mantega, Brasil e outros países emergentes vão cobrar a aceleração no processo de reformas no Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa pressão não é recente e o grupo já conseguiu uma vitória: antecipou de 2013 para 2011 a data da reforma. O ministro brasileiro quer que não haja dúvidas que, na reunião de Pittsburgo, nos Estados Unidos, o percentual de cotas sairá dos países desenvolvidos. ¿Janeiro de 2011 é uma data boa, mas quero antecipar o início da dança. Propomos que 7% das ações que estão com os países ricos passem aos emergentes e que tenhamos igualdade acionária¿, disse. Acrescentou que, com isso, países como Brasil, Índia e China podem pôr mais dinheiro no fundo. ¿Sabemos que, mesmo antes dessa crise, o Bric e emergentes já estavam à frente do crescimento. Depois dessa crise, isso será ainda mais verdadeiro.¿

Na opinião do ministro, o fortalecimento do G-20 em detrimento do G-8 ¿ composto pelos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia ¿ acontece espontaneamente. ¿Nunca vi tanta reunião do G-20. Já é o fórum mais importante da economia mundial e representa os países mais importantes do globo, mais de 80% do PIB mundial.¿

As medidas adotadas no Brasil tiveram efeito e o país foi um dos primeiros a sair da recessão¿

Guido Mantega, ministro da Fazenda

Adeus, recessão

As previsões do ministro da Fazenda, Guido Mantega, coincidem, em boa parte, com os prognósticos de, ao menos, dos analistas do mercado. Eles preveem que a expansão do Produto Interno Bruto, no segundo trimeste, será de 1,6% sobre o primeiro deste ano, quando ocorreu uma queda de 0,8%. Para os analistas, até o fim dos próximos três meses, o país terá superada a recessão técnica e ingressará em um período de recuperação da indústria e de ampliação do consumo interno.

¿Do lado da demanda, o principal impacto positivo vem do consumo das famílias, enquanto do lado da oferta vem da indústria, que finalmente se recupera¿, avalia Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria. Ele estima alta de 1,7% do consumo das famílias no segundo trimestre sobre o primeiro, quando subiu 0,7%. Para a indústria, prevê avanço de 1,8%, após queda de 3,1% no primeiro trimestre.

O economista sênior do Bes Investimentos, Flávio Serrano, atribui a melhora da indústria ao fim do ajuste de estoques do setor. Segundo ele, no primeiro semestre, houve um ajuste muito forte dos estoques e no segundo ocorreu um retorno a patamares mais normais. Em comparação ao segundo trimestre de 2008, Serrano prevê ainda uma forte queda industrial, de 8,5% , abaixo da taxa negativa do primeiro trimestre, de 9,3%. Para os analistas,a perspectiva é de que o crescimento se mantenha, embora ressalvem que seria precoce falar em que ritmo isso ocorrerá.