Título: Brasileia teme entrada massiva de imigrantes
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 11/01/2012, O País, p. 3
Prefeita receia que número de haitianos aumente até que decisão seja publicada
SÃO PAULO. A prefeita de Brasileia (AC), Leila Galvão (PT), teme que até a publicação da decisão de fechar as fronteiras para os haitianos ocorra uma nova entrada massiva de estrangeiros no país. A prefeita, assim como o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, e o governo do Amazonas viram como positiva a medida anunciada pelo governo federal.
Brasileia é uma das cidades de fronteira que foram invadidas por haitianos no fim de 2011, depois que rumores sobre a possibilidade de o Brasil fechar a fronteira se espalharam entre os estrangeiros. Apenas nos três últimos dias do ano, cerca de 500 haitianos entraram na cidade.
Segundo a prefeita, atualmente há cerca de mil haitianos no município.
- Vai haver essa divulgação (da decisão do governo federal) e, se demorar mais cinco ou sete dias para oficializar, eles vão aproveitar esse tempo. O ideal é que a decisão seja publicada o quanto antes - afirmou a prefeita.
Para ela, a decisão da União foi um alívio.
- Os municípios de fronteira estão com dificuldade de atender a demanda que está chegando aqui. A cidade é pequena, não tem estrutura suficiente, e já temos problemas locais. Não conseguimos atender aos haitianos como gostaríamos. Estávamos angustiados, pois a cada dia chegam mais pessoas. É um alívio - afirmou Leila Galvão.
De acordo com a prefeita, em reunião na tarde de ontem em Brasileia, a Polícia Federal anunciou que vai tomar medidas para agilizar o processo de regularização da permanência dos haitianos que já estão no Acre. Atualmente, eles têm que esperar meses até o visto humanitário ficar pronto, e ficam perambulando nas cidades de fronteira enquanto aguardam. Segundo a prefeita, a estimativa é que a autorização de trabalho fique pronta em cerca de dez dias.
Leila Galvão informou que, do dia 2 ao dia 9 de janeiro, 120 haitianos entraram no Brasil por Brasileia, o que sinaliza que o fluxo estava diminuindo se comparado ao final de 2011.
O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, disse que ainda não foi comunicado oficialmente da decisão da União, mas afirmou que colocar fim na migração desordenada é uma decisão correta.
- Isso vai obrigar os países a acelerarem o processo de reconstrução no Haiti. E o Brasil tem responsabilidade nisso, porque ele é líder na Minustah (missão de paz das Nações Unidas no Haiti). É preciso que a ONU e os demais países ajudem na reconstrução do país, que está lenta e devagar - afirmou Mourão.
Segundo o secretário, o governo peruano publicou ontem decisão exigindo visto para a entrada de haitianos no país. Na opinião de Mourão, por si só, a medida tomada pelos peruanos já deve causar a diminuição da entrada desses estrangeiros no Brasil, já que o Peru está na rota de entrada dos haitianos.
- De qualquer maneira, havendo haitiano no Acre, não importa a situação dele, o governo do estado fará o possível para dar atendimento humanitário - disse Mourão.
O governador do Amazonas, Omar Aziz, segundo sua assessoria de imprensa, também considerou positiva a decisão da União de fechar as fronteiras. Tabatinga, cidade do Amazonas que faz fronteira com a Colômbia e o Peru, registrou, apenas entre os dias 29 de dezembro e 2 de janeiro, a entrada de 208 haitianos.
- Temos hoje mais de 3.500 haitianos no Amazonas e também temos as demandas do nosso povo, que são enormes. Seremos solidários (com os imigrantes haitianos), mas é necessário que se tome uma decisão que não seja paliativa - disse Aziz, em nota.