Título: Inflação e sucessão política este ano são sombras na economia chinesa
Autor: D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 18/01/2012, Economia, p. 24

Analistas divergem sobre taxa de expansão, que ficaria entre 8% e 10%

SÃO PAULO. O crescimento menor do PIB chinês em 2011, de 9,2% ante 10,3% no ano anterior, foi recebido sem surpresas pelos economistas, uma vez que a desaceleração está em linha com as medidas de contração adotadas pelo governo para conter as ameaças de alta inflacionária - que, junto com a sucessão no Partido Comunista chinês, está entre os principais riscos para a economia do gigante. Mas as opiniões divergem quanto às perspectivas de crescimento. Para alguns analistas, com a economia mundial desacelerando, na esteira dos problemas na zona do euro, e a expansão do mercado doméstico ainda insuficiente para compensar a queda nas exportações, a tendência é que o crescimento do PIB chinês caminhe para um patamar próximo a 8%. Outros, entendem que o país terá de manter taxas entre 9% e 10% para sustentar a modernização econômica.

- Este ano o crescimento chinês será ligeiramente menor, pela continuidade do processo de a economia se voltar mais para o mercado interno. E pela mudança no comando político do país, que nunca é simples - diz Antônio Carlos Manfredini, professor da Escola de Administração e Economia da FGV de São Paulo.

O Partido Comunista chinês elegerá este ano os sucessores dos atuais ocupantes dos dois principais postos políticos do país: Hu Jintao, o presidente, e Wen Jiabao, o primeiro-ministro. Embora o fantasma de uma inflação maior tenha passado, observa Manfredini, os processos de sucessão em regimes como o chinês são sempre delicados e têm reflexos nos mercados.

- Não é nada dramático e será uma desaceleração suave, mantendo a China como a economia que lidera o crescimento mundial - diz ele, que prevê crescimento de 8,5% este ano.

"Crescer menos que 8% é como ficar estagnada"

Sem um mercado doméstico robusto o suficiente para compensar a freada na economia global, Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, estima que o PIB chinês terá expansão perto de 8% a partir de agora. Nível mais que suficiente, diz, para manter a alta dos de commodities, uma boa notícia, que deve permitir ao Brasil sustentar a balança comercial.

- Apesar da perda de fôlego do PIB, ainda teremos uns quatro ou cinco anos com a China conseguindo sustentar nossa balança comercial - afirma Vale.

Com a inflação relativamente controlada e a necessidade de o país dar sequência ao processo de urbanização, conseguindo absorver a migração da população do campo para as cidades, Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, considera que o governo deve empenhar-se em manter a economia num ritmo de crescimento acima de 9%, como projeta o Fundo Monetário Internacional (FMI) para os próximos três anos:

- Para a China, crescer menos de 8% é como ficar estagnada, pois a população economicamente ativa é de 250 milhões, e quase metade da população, de 1,34 bilhão de chineses, ainda vive no campo. E, para absorver a mão de obra entrante no mercado e a migração do campo, o crescimento terá de se manter elevado.

Risco de bolhas é menor, mas não está descartado

Os riscos do surgimento de "bolhas", por causa da expansão acelerada do crédito e de setores como o imobiliário, teriam sido reduzidos por medidas restritivas e de controle adotas em 2011, na visão dos economistas ouvidos pelo GLOBO. Mas não estão descartados.

Agostini lembra que os temores de uma explosão da inadimplência foram dirimidos pelo aperto monetário e não há grande exposição do país a riscos nos mercados globais, dado o conservadorismo do governo na gestão de mais de US$3 trilhões de reservas. Para Manfredini, as ameaças externas estão dadas e uma piora nas condições na Europa não seria tão dramática para a China. O setor bancário chinês, contudo, pode assustar os mercados, adverte Vale:

- Não se tem ideia real da situação dos bancos.