Título: Dilma quer que juros básicos caiam ainda mais
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 20/01/2012, Economia, p. 26
Fontes dizem quem são esperados mais dois cortes de 0,5 ponto percentual, para que Selic feche ano em 9,50%
DILMA ROUSSEFF: presidente está disposta a fazer ajuste fiscal para que BC flexibilize a política monetária
geralda@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA. A decisão do Banco Central (BC) de reduzir os juros para 10,5% ao ano, na última quarta-feira, agradou ao Palácio do Planalto, mas a presidente Dilma Rousseff quer mais. Segundo interlocutores, são esperados pelo menos mais dois cortes de 0,50 ponto percentual na taxa, para que a Selic feche 2012 em 9,5%. Para isso, a presidente está disposta a fazer um ajuste fiscal que permita ao BC seguir flexibilizando a política monetária.
A inflação, sobretudo a vinda dos alimentos, preocupa porque tem como causa fatores climáticos (chuva e estiagem). Mas há um entendimento de integrantes da área econômica de que é melhor que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique um ponto percentual acima do centro da meta neste ano - em 5,5% - do que sacrificar a renda das famílias e a geração de empregos, com a interrupção na queda da Selic.
- A palavra é calibrar. Será que vale a pena forçar a mão nos juros, por causa de um ponto percentual a menos na inflação? - indagou uma fonte.
Missão de ministros é enxugar o orçamento
De olho nisso, a missão delegada aos ministérios do Planejamento e da Fazenda é enxugar o orçamento de 2012, para fechar o corte em R$60 bilhões. Isso sem comprometer investimentos e programas sociais.
Segundo interlocutores, na avaliação do Planalto, o melhor caminho para assegurar o crescimento da economia é pela via da flexibilização da política monetária e do crédito. É com esse propósito que a presidente estaria disposta a usar outros mecanismos, como maior aperto fiscal, por exemplo.
O corte no orçamento seria uma sinalização importante para o mercado, além de dar margem ao BC para continuar reduzindo os juros. Uma ala mais conservadora defende mais dois cortes na Selic, só que um de 0,5 ponto e outro de 0,25%, justamente por causa da inflação.
Dessa forma, explicou a fonte, o corte de R$50 bilhões já seria suficiente pois, além do contingenciamento, o Executivo faz a famosa gestão de caixa. Historicamente, o governo tem dificuldade de executar o orçamento. Ou seja, acaba fazendo também um contingenciamento natural.
Investimentos terão que ser mantidos
Para chegar ao corte de R$60 bilhões, técnicos do governo estão se esforçando, dado o engessamento do orçamento às despesas fixas obrigatórias, como pagamento da folha do funcionalismo, dos benefícios previdenciários (INSS e regimes próprios), dos programas sociais e juros da dívida sem atingir os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
- Manter os investimentos é uma ordem - contou um técnico envolvido nas discussões.