Título: Círculo vicioso dos juros e da inflação
Autor:
Fonte: O Globo, 20/01/2012, Opinião, p. 6

O Brasil permanece com as taxas reais de juros mais altas entre as economias relevantes do planeta, posição nada lisonjeira (com 4,8%, acima dos 2,8% da Hungria, em séria crise). No entanto, também não são abonadores os níveis de inflação no país.

As metas de inflação estão acomodadas em um patamar elevado para padrões internacionais - já que são esses os parâmetros usados para as taxas de juros - e só com muito esforço recuaram no ano passado para o teto tolerado (6,5%) por essa política.

Decerto, o Brasil precisa quebrar essa trajetória de gangorra nas taxas de juros versus inflação. Por estarem bem acima do que seria recomendável, os juros são cortados pelas autoridades monetárias sempre que é possível, como na quarta, em mais 0,5 ponto, para 10,5%. A partir de um determinado momento, com juros ligeiramente mais baixos a política monetária começa a perder eficácia. E a inflação reaparece com garras mais afiadas, o que leva o Banco Central a subir os juros de novo para tentar segurá-la.

Trata-se de um processo penoso, porque tem impacto negativo sobre as finanças públicas, desnorteia os investimentos e distancia grande número de brasileiros de muitas facilidades da vida moderna.

É difícil estabelecer uma exata relação de causa e efeito porque não são poucas as distorções que foram se acumulando nesse quadro de anormalidade, o que, resulta, às vezes, em uma discussão sobre o que vem primeiro, se o ovo ou a galinha.

Em paralelo, parece existir menos dúvidas sobre alguns avanços macroeconômicos que ajudariam o país a quebrar o círculo vicioso. Um dos principais avanços seria o aumento da taxa de poupança interna. Para que a economia brasileira seja mais competitiva e eficiente terá de investir mais, e tanto melhor se esse investimento vier do aumento da poupança doméstica, de modo que a expansão não fique tão dependente dos humores dos mercados financeiros internacionais.

Em face dos desafios que o país tem pela frente, a contribuição do setor público para o aumento da poupança interna é fundamental. E isso poderia ser traduzido por investimentos sob responsabilidade governamental ou que sejam compartilhados pelo Estado.

No conjunto dos gastos públicos, os investimentos continuam representando uma pequena parcela. E acabam sendo os primeiros a ser sacrificados a qualquer sinal de perda de receita. O custeio absorve a maior parte das despesas governamentais, e o esforço político para comprimi-lo não é relevante. Tempos atrás, o governo propôs ao Congresso um limite para o crescimento dos gastos com custeio. Por essa proposta, a expansão não poderia superar a que fosse apresentada pelo Produto Interno Bruto (PIB). É um tema que ficou em banho-maria. Com a proposta, o governo busca dar a impressão que está fazendo sua parte, e só não faz mais porque não encontra o respaldo político do Congresso. É triste que uma definição tão importante para o futuro da economia brasileira fique na esfera do "faz de conta". E acabe recaindo sobre as taxas de juros.