Título: Aumenta número de haitianos sem visto barrados na fronteira brasileira
Autor: Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 20/01/2012, O País, p. 4

Quase 200 estrangeiros estão no Peru; muitos se surpreendem com proibição

HAITIANOS NÃO conseguem entrar em Assis Brasil (AC): Ministério da Saúde ajudará com R$1,3 milhão

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SÃO PAULO. O número de haitianos sem visto que esperam na fronteira do Peru com o Brasil para tentar entrar no Acre está crescendo, segundo a Secretaria municipal de Assistência Social de Assis Brasil (AC). Segundo a secretária Eliete Cordeiro, anteontem cerca de 120 haitianos aguardavam na cidade peruana de Iñapari, após terem sido barrados pela Polícia Federal, devido à decisão do governo brasileiro de proibir a entrada de cidadãos do Haiti sem visto, tomada dia 10 de janeiro. Ontem, porém, segundo a secretária, já havia 180 estrangeiros em Iñapari.

Segundo Eliete, os haitianos estão com visto peruano de turista válido, mas querem entrar no Brasil em busca de emprego. Uma ponte separa Iñapari de Assis Brasil e, para evitar que haitianos entrem no Brasil sem visto, a PF teria montado posto móvel na parte brasileira da ponte.

Em reunião ontem entre autoridades policiais e dos governos do Brasil e do Peru, a prefeitura de Assis Brasil decidiu doar 200 kg de arroz, 200 kg de feijão e 200 kg de farinha aos haitianos.

- O MP e a PF conversaram com eles e vão encaminhar ao governo brasileiro o pedido dos haitianos, que querem entrar no Brasil. Dizem que não há como viver no Haiti - disse Eliete.

Ficou acertado que a prefeitura de Iñapari providenciará um ginásio ou escola onde os haitianos possam cozinhar e dormir. Segundo o secretário estadual de Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, os haitianos, que chegaram à fronteira na terça, passam o dia numa praça de Iñapari; muitos já estão sem dinheiro, têm dormido na casa de moradores ou em pensões. Vários têm tios e sobrinhos no Brasil.

Segundo o secretário, uma equipe do Desenvolvimento Social visitou ontem as cidades acreanas de Brasileia, Epitaciolândia e Assis Brasil, para analisar como a pasta pode ajudar. O Acre pleiteia ajuda para hospedar melhor os cerca de 600 haitianos ainda em Brasileia.

Mourão disse que o número de haitianos em Brasileia tem diminuído, principalmente depois que o procedimento para recebimento do visto humanitário foi agilizado. Além disso, o governo do Acre continua pagando a passagem de ônibus de haitianos para que deixem Brasileia e sigam para Rio Branco.

- Todo dia partem no mínimo 40 haitianos. Hoje (ontem), estão partindo cem. A PF agilizou o procedimento para obter a documentação. Até o fim desta semana todos estarão documentados. Hoje, há cerca de 600 haitianos em Brasileia. Acho que 250 ainda esperam visto. Muitos já conversam com empresas que vão a Brasileia para selecionar funcionários. No fim de janeiro, creio que haverá menos de cem haitianos em Brasileia.

Segundo o agente social da Secretaria estadual de Justiça e Direitos Humanos do Acre Damião Melo, desde o início do ano cerca de 120 haitianos saíram de Brasileia após empresários irem à cidade recrutá-los para vagas em MT, SC, SP, RS e PR.

O Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial ontem autorização para enviar R$1,3 milhão/ano para reforçar o atendimento do Acre aos haitianos. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em nota, a medida evitará que problemas de saúde sejam introduzidos no Brasil: "O governo brasileiro também apoia ações no Haiti, decisivas para redução de casos de cólera. Agindo com o governo haitiano e promovendo ações nas fronteiras, reduzimos o risco de introdução de doenças no Brasil".