Título: Governo evitou condenar Síria e Líbia
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 24/01/2012, O Mundo, p. 25

Exceção de Dilma foi o Irã; Patriota vê relação normal com o país

BRASÍLIA. Antes da posse, Dilma Rousseff concedeu uma entrevista ao "Washington Post" na qual, acreditava-se, teria dado o tom de seu discurso sobre direitos humanos. Condenou o apedrejamento e "qualquer outra prática medieval" contra mulheres, em um recado ao Irã, que condenara à morte por apedrejamento, sob alegação de adultério e homicídio, Sakineh Ashtiani.

A declaração de Dilma criou na comunidade internacional - e brasileira também - a expectativa de que a nova presidente teria uma postura diferente da de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, essa diferença, pelo menos para o público externo, limitou-se ao Irã. Em março do ano passado, o Brasil votou a favor de uma resolução da ONU contra o país. A diplomacia brasileira apoiou, com mais 21 nações, o envio de um relator especial para investigar violações de direitos humanos no Irã. Desde 2001, o Brasil evitava votar contra Teerã. Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, negou que as relações entre o governo Dilma e o de Mahmoud Ahmadinejad estejam abaladas, conforme relatou o porta-voz do país em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo". Patriota afirmou que continua conversando normalmente com as autoridades daquele país.

A iniciativa brasileira não se repetiu em outros casos de acusações de violações dos direitos humanos. Embora tenha aplaudido a Primavera Árabe, o levante que tirou do poder ditadores na Tunísia, no Egito e no Iêmen, o Brasil foi um dos últimos a condenar os abusos dos regimes líbio e sírio. Apesar de vários países terem reconhecido o Conselho Nacional de Transição como representante legítimo do povo líbio, o Brasil só o fez quando o assunto foi votado na ONU.

Com a Síria é a mesma coisa. Somente em novembro o Brasil votou favoravelmente no Conselho de Direitos Humanos da Assembleia Geral da ONU a uma resolução que condena a Síria pela morte de civis. Um mês antes, o Brasil se abstivera em relação a um texto do Conselho de Segurança contra aquele país. Agora, com Cuba, a presidente Dilma poderá demonstrar qual enfoque sua diplomacia seguirá. (Chico de Gois)