Título: Após escândalos em ministérios, Dilma cobra monitoramento on-line
Autor: Damé, Luiza; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 24/01/2012, O País, p. 4

Presidente pede sistema que permita ver execução de gastos em tempo real

BRASÍLIA. Após ver o primeiro ano de seu mandato marcado por desvios e desmandos em contratos com empreiteiras e convênios com ONGs que vinham do governo Lula, a presidente Dilma Rousseff determinou ontem aos seus ministros, na primeira reunião ministerial do ano, que os programas de governo tenham monitoramento on-line e, preferencialmente, em tempo real. Ao final de cinco dias de reuniões setoriais, quando cobrou ações de todas as áreas do governo, Dilma, numa fala de 30 minutos, disse que quer acompanhar tudo de perto, e que esse monitoramento faz parte de "um projeto revolucionário, progressista e indispensável" à reforma do Estado.

Segundo o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, os ministérios têm até metade do ano para apresentar sistemas de acompanhamento das ações. Dilma frisou, segundo ele, que não se trata de reformar o Estado com demissão de servidores ou perda de direitos previdenciários, mas com a gestão mais profissional e meritocrática.

- A ideia é que todos os gastos, todas as ações do governo possam ser vistas e monitoradas e, portanto, cobradas na hora. Vamos imaginar que convênios com prefeituras, com ONGs, passam a ter informação de quando foi feito, o que está sendo feito e tenha cobrança direta em relação aos gastos públicos. Isso não é uma questão de reforma de Estado. É como fazer com que o Estado preste serviços melhores para a população - explicou Traumann.

A presidente abriu a reunião. Depois, falaram o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. O secretário-executivo do Ministério da Previdência, Carlos Gabas, apresentou o sistema de monitoramento adotado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), modelo que inspirou a determinação de Dilma.

O porta-voz disse que os dados poderão ser divulgados, mas o acesso ao sistema de monitoramento será dos membros do governo. A intenção, segundo Traumann, é melhorar os serviços prestados à população:

- A questão é: o que está sendo gasto hoje, o que você pode corrigir.

Na reunião, Tombini fez uma apresentação sobre crise internacional. Disse que o crescimento do PIB deve se acelerar em 2012, "sobretudo no segundo semestre, com a inflação em trajetória descendente e com rumo ao centro da meta".

Após a reunião, Mantega disse que em meados de fevereiro o governo definirá o tamanho do corte no Orçamento de 2012, mas sinalizou que o valor será menor do que R$70 bilhões: entre R$50 e R$55 bilhões.

Ele afirmou que os cortes não atingirão o PAC, o Minha Casa, Minha Vida, as obras de infraestrutura e da Copa de 2014, nem a área social. Serão no custeio da máquina pública. Segundo Mantega, será necessário fazer cortes para garantir o superávit primário de 3,1% do PIB.