Título: Canção gospel também é cultura
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 29/12/2011, O País, p. 5

Senado aprova projeto que dá acesso a cantores do gênero à Lei Rouanet

BRASÍLIA. A canção gospel está prestes a virar um gênero musical oficial, como o samba, o hip hop ou o sertanejo. No último dia 20, o Senado aprovou seu reconhecimento como manifestação cultural. Se a presidente Dilma Rousseff sancioná-lo, cantores, pastores, padres, parlamentares evangélicos e católicos que entoam esses cânticos e hinos de louvor cristãos poderão ser contratados como artistas e ter direito aos benefícios de isenção fiscal da Lei Rouanet.

Consultado pela Casa Civil, o Ministério da Cultura recomenda prudência ao Palácio do Planalto. O diretor do Centro da Música da Funarte - vinculado à Cultura -, Bebeto Alves, elaborou um parecer e considera que o projeto é polêmico. Bebeto entende não haver dúvida de que a música gospel é uma expressão cultural, mas se preocupa com a exploração religiosa da conversão desse estilo em manifestação cultural.

- É um assunto polêmico, um tema delicado e que precisa de um pouco de cuidado. A música gospel é, sim, uma manifestação cultural num país onde os gêneros musicais são muito amplos e variados. Mas tem uma questão de fundo, que é a catequese, a dinâmica religiosa e litúrgica. O risco é de haver uma distorção do entendimento de expressão e linguagem de cultura com evento de cunho religioso. Imagino que deva ter algum impedimento quanto a isso. De se coibir distorções no uso das benesses da lei - disse Bebeto Alves.

O projeto faz uma ressalva e exclui dos benefícios da lei os eventos musicais gospel promovidos por igrejas. O autor da proposta é o hoje ex-deputado bispo Robson Rodovalho (PP-DF), um dos fundadores da Igreja Sara Nossa Terra. O líder evangélico também é cantor e já gravou vários discos com músicas desse tipo.

O deputado e cantor Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), da Assembleia de Deus e que já lançou até DVD, afirmou que o projeto beneficia um segmento, o evangélico, vítima de preconceito.

- Tem verba federal para cultura afro, para a música sertaneja e até para o funk. Por que não para a música gospel? - disse Marco Feliciano.

Para o líder da Renovação Carismática Católica, o deputado Eros Biondini (PTB-MG), a música cristã ultrapassou templos e igrejas e já é reconhecida como obra cultural. Biondini cita os padres Fábio de Melo e Marcelo Rossi como exemplos de sucesso nesse estilo.

- Essa lei não vai beneficiar só a música gospel dos evangélicos, mas também a produção cultural católica. Ambas são inspiradas no Evangelho. Será uma grande conquista - disse Biondini.