Título: De volta ao Senado, Jader critica Ficha Limpa
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 29/12/2011, O País, p. 5

Após um ano afastado do cargo para o qual foi eleito, peemedebista retorna à Casa que deixou para não ser cassado

BRASÍLIA. O senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que tinha sido barrado pela Lei da Ficha Limpa, assumiu ontem o cargo, em reunião extraordinária, no recesso da Casa, criticando o efeito retroativo da lei que provocou a perda de quase um ano de seu mandato. Personagem de seguidos escândalos, Jader disse que esperava pela posse desde que a lei foi revogada para as eleições de 2010 e lamentou a demora para retomar o posto que perdeu há 10 anos, quando renunciou para não ser cassado. Jader disse que votou pela aprovação da Ficha Limpa.

- Toda lei entra em vigor na data de sua publicação. Foi o Supremo que disse isso. Não pode uma lei entrar em vigor tratando de assuntos pretéritos. Por exemplo, se a lei do divórcio fosse revogada, se você tivesse se divorciado e casado novamente, você seria declarado bígamo - reclamou Jader sobre a interpretação que retardou sua posse após ter sido eleito em 2010.

- Eu lamento que, a partir do momento que o Supremo declarou a lei inconstitucional (para a eleição de 2010), eu ter demorado para assumir. Mas é um mandato longo, terei sete anos para exercer e devolver a solidariedade recebida pelo povo do Pará.

Jader Barbalho disse que a Lei da Ficha Limpa foi o seu maior adversário. Ele explicou que muitos eleitores não votaram nele com o argumento de que anulariam o seu voto.

- Essa não foi uma eleição fácil. Muitos lamentavam não ter votado em mim porque o voto seria anulado.

A posse de Jader, comandada pela vice-presidente do Senado, Marta Suplicy (PT-SP), foi rápida, sem discursos. O presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), atuou fortemente para apressar a posse de Jader junto com a cúpula do PMDB. Mas não esteve presente no ato. Jader tomou posse duas semanas depois de o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, ter dado um voto de desempate a seu favor.

Por quatro dias de dezembro, R$30 mil

Jader foi acompanhado dos filhos Giovanna, de 15 anos, e Daniel, de nove. O menino chamou atenção ao fazer caretas e fez o senador passar por saia justa ao lhe perguntar qual a maior denúncia que já tinha enfrentado, durante entrevista coletiva.

Questionado se rejeitaria o salário nesse período de recesso, Jader foi enfático ao dizer que não abriria mão dos seus direitos. Pelos quatro dias desse mês de dezembro, deve receber R$3.360, além de uma ajuda de custo de R$26,7 mil paga a todo parlamentar no fim do ano. Ele também receberá o salário de janeiro, de R$26,7 mil.

- Essa não era uma preocupação minha. Não sei quanto vou receber, mas só espero receber o que tenho direito - disse Jader.

Questionado se voltava temeroso, ele respondeu:

- Não vou repetir o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que disse que Deus o havia poupado do medo. Se a pessoa não tiver medo, é capaz de cometer imprudência. Eu volto ao Senado um melhor aprendiz.

Numa clara demonstração de que está afinado com o governo Dilma Rousseff, Jader fez elogios à presidente.

- Ela encerra este ano de parabéns - afirmou, fazendo referência aos sete ministros que caíram, seis após denúncias de corrupção.

Jader substitui Marinor Brito (PSOL-PA), que exerceu durante 11 meses o seu mandato, apesar de ter ficado em quarto lugar nas eleições de 2010.