Título: Improviso nas salas de aula
Autor: Remígio, Marcelo
Fonte: O Globo, 29/12/2011, O País, p. 3

No Piauí, professores de Química lecionam Física e Matemática

Letícia Lins, Efrém Ribeiro e Carol Aquino*

RECIFE, TERESINA e SALVADOR. Assim como nos estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, no Nordeste a carência de professores preocupa alunos e professores. No Piauí, educadores lecionam em várias áreas e alunos recebem notas, mesmo sem ter aulas. Com nove anos de magistério, o professor de Química Luiz Brito foi obrigado a dar aulas de Física porque o diretor de uma das escolas que leciona na rede pública de Teresina pediu que ministrasse aulas para os alunos do 3º ano do ensino médio. O motivo: falta de docentes da disciplina na rede estadual.

- Eu aceitei, fiz um acordo amigável para não deixar os estudantes que iam fazer o vestibular sem a disciplina. Eu percebi que o professor que não é da área fica debilitado, tem que estudar para aprender a disciplina. Quando se dá aula em nossa área, Química, a gente apenas aperfeiçoa, faz um leitura; quando é Física é preciso estudar mais, tive dificuldades.

Já a professora de Química do ensino médio Sandra Lima aceitou dar aulas de Matemática para alunos do 5º ao 8º ano do ensino fundamental da Unidade Escolar Odilo de Brito Ramos, em Teresina.

- Como é Ensino Fundamental, a Matemática é básica, nisso eu não tive problemas, mas as dificuldades que enfrentei foram em relação à metodologia, de como ensinar. Já que não se está habituada a dar aulas de Matemática, não se tem estratégia para fazer com que o aluno compreenda.

Parte dos 400 estudantes da Unidade Escolar Governador Alberto Tavares Silva, no Conjunto Morada Nova, na Zona Sul de Teresina, teve notas em Matemática atribuídas por avaliação pessoal e comportamento. Algumas turmas ficaram sem aulas até junho. Como não foi possível encontrar professor de Matemática, educadores da área de Biologia assumiram os tempos com exercícios. A Secretaria de Educação e Cultura do estado do Piauí informou que as aulas foram repostas aos sábados. O secretário estadual de Educação, Átila Lira, afirmou que existe nas escolas municipais do Piauí um déficit de 70% de professores de Física. De acordo com ele, há professores de Física "em número elevado" apenas em 30% das 224 cidades do Piauí.

Com 890 mil alunos matriculados, a rede estadual de ensino de Pernambuco tem um déficit de 5.186 professores, de acordo com a promotora de Justiça na área de educação Eleonora Marise Silva Rodrigues, problema que se arrasta desde o governo passado. A Secretaria estadual de Educação contesta a informação, assegurando que o número disponível de educadores é suficiente para atender as 25.578 turmas de ensino regular. Segundo a promotora, este ano só foram contratados 152 professores, assim mesmo por pressão do Ministério Público Estadual e posterior à decisão judicial. Eles já haviam se submetido a concurso público e estavam esperando a efetivação. Mas, de acordo com o próprio estado, o número de contratados é menor: 119 aprovados em concurso promovido em 2008.

- Se não forem tomadas providências, o problema tende a se agravar, porque a previsão é que, entre 2011 e 2015, 9.454 professores devem estar entrando em regime de aposentadoria - advertiu a promotora, afirmando que o estado dispõe de 1.174 docentes que estão cedidos à própria Secretaria estadual de Educação, em serviços burocráticos e, portanto, fora da sala de aula. Outros 1.199 encontram-se lotados em outros órgãos do governo.

Já na Bahia, o déficit de professores na rede estadual para 2012 é de 1.884 profissionais. A superintendente de Recursos Humanos da Secretaria estadual de Educação, Cláudia Cruz, diz que ainda não se pode afirmar precisamente qual o efetivo necessário para o ano que vem, pois a pasta ainda está em fase de planejamento e cálculo de demanda. No último concurso público, realizado em janeiro de 2011, foram ofertadas 3.200 vagas e convocados 2.467 educadores. São 6.887 professores que precisam ser substituídos; 4.387 são temporários; e 2.500 devem se aposentar em 2012. O governo promete novas convocações para o próximo ano, já que foram classificados 5.003 candidatos. Mesmo assim, no interior do estado serão necessários contratos temporários.

*Da Agência A Tarde