Título: Ações na lanterna de 2011
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 30/12/2011, Economia, p. 29

TURBULÊNCIA GLOBAL

FGTS-Vale e FGTS-Petrobras perdem mais de 20% no ano em que Bovespa cai 18% e dólar avança 12%

A crise das dívidas soberanas na Europa fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechar 2011 com o terceiro pior desempenho anual na era do Plano Real, tornando as ações a pior aplicação do ano. O Ibovespa, índice de referência, encerrou o ano com queda de 18,11%, mesmo com a ligeira alta (0,39%, aos 56.754 pontos) de ontem, último pregão de 2011. O tombo só foi maior em 2008 (41,22%) e em 1998 (33,46%). Com isso, os fundos mútuos de privatização FGTS-Vale e FGTS-Petrobras ficaram na lanterna, perdendo, respectivamente, 22,83% e 20,42%, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

O ano também marcou a primeira queda no número de pessoas físicas investindo na Bolsa desde 2002. Até novembro, 22 mil pequenos investidores se desfizeram de seus investimentos em ações. O ano de 2010 encerrou com 611 mil CPFs cadastrados na Bolsa e, em novembro passado, havia 593 mil. As pessoas físicas sacaram R$7,9 bilhões da Bolsa até o dia 27 deste mês.

O dólar comercial caiu 0,27% ontem, a R$1,869, mas terminou o ano com alta de 12,18%, a maior desde 2008, quando a moeda se valorizou 31,34%. Em 2011, somente no México e na África do Sul o dólar subiu mais do que aqui, entre as 16 principais moedas do mundo acompanhadas pela agência Bloomberg News. Assim, o desempenho do Ibovespa em dólar foi ainda pior, registrando perda de 27,17%, a terceira maior queda entre as principais bolsas de valores - atrás de Bombaim, na Índia (36,08%), e Milão (28,33%). O principal índice de Atenas, com a Grécia no epicentro da crise, também caiu mais neste ano: 54,23%.

Para analistas, além dos receios em relação ao baixo crescimento da economia mundial, o que pode levar à queda nas cotações de matérias-primas como petróleo e minério-de-ferro - produzidos por Petrobras e Vale -, ingerências políticas pesaram sobre as ações das duas companhias. Na Vale, pressões do governo contribuíram para a troca no comando da empresa. Já a Petrobras teve dificuldades em aumentar o preço da gasolina, devido a preocupações do governo com a inflação. E a capitalização da estatal, no fim de 2010, não foi bem vista pelo mercado.

- Os investidores, sobretudo os estrangeiros, odeiam esse tipo de ingerência - diz Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos.

No longo prazo, porém, o quadro não é ruim. Quem, em 2000, no caso da Petrobras, e em 2002, no caso da Vale, preferiu direcionar os recursos do FGTS para esses fundos de ações está ganhando. De 2002 para cá, o ganho acumulado é de 941,94% no FGTS-Vale e de 371,85% no FGTS-Petrobras.

Investimento conservador em alta

Já os fundos de ações indexados ao Ibovespa recuaram 16,4% em 2011. Somadas, ações de Petrobras e Vale têm peso de 25,03% no Ibovespa, o que faz com que suas quedas puxem a Bolsa para baixo. Na nova carteira do índice (revisada trimestralmente), o peso cairá para 23,14%.

Com a alta anual de 12% no dólar comercial, os fundos cambiais, que aplicam na divisa americana, acumularam 14,6% em 2011. No ano, a inflação medida pelo IGP-M ficou em 5,10%. O administrador de investimentos Fabio Colombo explica que o movimento é normal. Em ciclos de otimismo, as cotações de ações sobem e o dólar tende a se desvalorizar. Já no momento de pessimismo, como o atual, ocorre o contrário. Isso não quer dizer, porém, que é hora de aplicar nesses fundos. O investimento é arriscado, e especialistas se dividem em suas projeções para a trajetória da moeda.

Natan Blanche, sócio da consultoria Tendências e especialista em câmbio, acredita na queda do dólar para 2012, com a cotação podendo terminar o próximo ano em R$1,70. Isso porque ele projeta saldo positivo no balanço de pagamentos em 2012, em US$25 bilhões. O balanço inclui todas as trocas do país com o exterior, como saldo comercial, investimentos estrangeiros diretos e recursos para a Bolsa. Com isso, haveria fluxo de dólares para o Brasil. O cenário de Blanche não considera eventos extremos na Europa:

- É impossível não saírem medidas na Europa. Do contrário, o euro acaba e o custo seria muito maior.

A alta do dólar em 2011 foi resultado da combinação entre a piora da crise internacional e a interferência do governo, segundo especialistas. A principal medida governamental no câmbio foi a taxação das operações que apostam na queda do dólar no mercado futuro, com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O imposto vale desde setembro, mas teve a cobrança adiada para o próximo ano na última terça-feira.

Para o diretor de Tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer, o IOF sobre derivativos deixou o mercado desequilibrado, facilitando a atuação de especuladores.

- A especulação vem no desequilíbrio do mercado - diz Knauer.

No primeiro semestre, o dólar caiu com fundos estrangeiros apostando na queda da divisa no mercado futuro. Quando esses investidores precisaram desfazer-se das apostas, diante da crise, encontraram especuladores apostando na alta do dólar. Tanto Knauer quanto Blanche criticam a taxação dos derivativos e apostam no fim da cobrança em 2012.

Knauer destaca também a forte volatilidade. Por causa das grandes variações, ele não faz previsões para o câmbio e considera que as aplicações em fundos cambiais poderão ser muito arriscadas. Especialistas não recomendam a aplicação nem mesmo para quem vai viajar. O administrador de investimentos Colombo recomenda a compra da moeda americana à vista, mas apenas para quem vai viajar no início do ano. Para ele, as aplicações em fundos cambiais podem servir como diversificação, mas nunca passar de 20% do total de investimentos.

Com a crise, os investimentos conservadores também se destacaram em 2011. Os fundos de renda fixa registraram ganho de 12,24%, enquanto os fundos DI ganharam 11,66% até o último dia 26, segundo a Anbima. Os fundos DI investem em títulos públicos pós-fixados, atrelados à taxa básica de juros (Selic), enquanto os de renda fixa investem também em prefixados.

Para Colombo, mesmo com a tendência de queda na Selic, os fundos DI ou atrelados à inflação seguirão como melhores opções conservadoras. O investidor deverá, contudo, pesquisar as taxas de administração, do contrário, a poupança poderá sair ganhando. Este ano, a caderneta acumulou alta de 7,45%.