Título: Do vacilo à ajuda de R$ 5 bilhões
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 06/09/2009, Economia, p. 19

Primeiro, governo negou problemas. Mas reagiu a tempo cortando imposto e liberando crédito

Me senti segura. Como havia poupado um pouco, paguei uma parte do imóvel à vista e financiei o restante Giuliana de Oliveira, servidora pública

» VICENTE NUNES Os bons indicadores colhidos pelo Brasil nesse um ano de crise mundial destoam da postura vacilante do governo logo depois da quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008. O presidente Lula classificou o maior terremoto financeiro do planeta em quase 80 anos como ¿marolinha¿. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sustentou, o quanto pôde, que o país estava imune aos estragos que haviam colocado as maiores economias do planeta de joelhos. ¿Felizmente, essa postura equivocada durou pouco. E tanto a Fazenda quanto o Banco Central tomaram as medidas adequadas para que o Brasil enfrentasse a crise da melhor forma possível¿, diz a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif.

O governo abriu mão de R$ 4,9 bilhões em impostos na tentativa de estimular setores estratégicos. Automóveis, caminhões, geladeiras, fogões e materiais de construção ficaram mais baratos, devido à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A desoneração fez com que os estoques encalhados caíssem ¿ em junho deste ano, foram vendidos mais de 300 mil automóveis no país, recorde para um único mês ¿ e as máquinas voltassem a produzir. ¿O ideal teria sido o corte de impostos para todos os setores e não para segmentos específicos. Mas não há como negar que a redução do IPI foi vital para estimular a economia, mantendo o consumo ativo e estimulando a retomada do emprego¿, afirma Cláudio Porto, presidente da Consultoria Macroplan.

O pacote de incentivos veio acompanhado de mudanças na tabela do Imposto de Renda (IR) e do adiamento do recolhimento de impostos pelas empresas, uma forma de compensar a escassez de crédito. Para destravar os empréstimos e evitar a quebra de bancos pequenos e médios, o BC liberou R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios que estavam retidos em seus cofres. Com o mercado internacional travado e os exportadores sem linhas de financiamento, o banco injetou quase US$ 40 bilhões no mercado. Fechou ainda US$ 33 bilhões em contratos no mercado futuro de câmbio para evitar que gigantes do setor produtivo que vinham especulando com dólar fossem à bancarrota.

¿Não havia outra saída. Mas o importante é que essas medidas funcionaram¿, resume José Matias-Pereira, professor-pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Brasília (UnB). Foi o sucesso do pacote do governo que deu segurança à servidora pública Giuliana de Oliveira, 37 anos, para realizar o sonho de comprar a casa própria. ¿Me senti segura. Como havia poupado um pouco, paguei uma parte do imóvel à vista e financiei o restante¿, conta. Em princípio, a política de incentivos fiscais começará a ser desmontada a partir de outubro. Mas são grandes as chances de o governo estendê-la por parte de 2010.