Título: BC faz primeira redução do ano nos juros: 10,5%
Autor: Valente, Gabriela; D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 19/01/2012, Economia, p. 23

Selic cai ao menor patamar desde junho de 2010. Autoridade monetária indica que manterá cortes, mas não até quando

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, cortar a taxa básica de juros (Selic) pela quarta vez consecutiva, em 0,5 ponto percentual, para 10,5%, como previra a maioria dos economistas. É a menor taxa desde junho de 2010. A expectativa maior não era com a decisão do Banco Central (BC), e sim com o comunicado, para saber se este iria dirimir a principal dúvida dos analistas: até quando prosseguirão os cortes?

O BC apenas indicou que manterá o ritmo nos cortes, sem dar sinais de quando interromperá esse movimento. "O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012", afirma a nota, que repete o texto da reunião anterior.

- Não havia motivo para o Banco Central se comprometer com algum cenário, se ainda estamos no início do ano, e um ano com muitas incertezas. Acho prematuro ter definido um cenário baseado num possível aumento de inflação em 2013 - disse o ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall.

Taxa chegaria a 9,5% em abril, dizem analistas

Assim como ele, a maioria dos economistas espera mais dois cortes de 0,5 ponto percentual consecutivos, o que levaria a taxa a 9,5% em abril. Alguns, como a área econômica do Itaú Unibanco, projetam um corte adicional em maio, a 9%. Isso porque a inflação dos últimos 12 meses está em 6,5% (o teto da meta), e ela tende a cair, tanto por questões econômicas como estatísticas, devido à nova fórmula de cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Apesar da perspectiva de piora do cenário externo, com o agravamento da crise na zona do euro, o que poderia levar a mais cortes de juros, a maioria dos analistas está cautelosa.

- Aparentemente, a economia entrou em 2012 numa velocidade maior que a esperada, por isso é pouco provável que a Selic possa cair além de 9,5% - diz Flávio Samara, economista da LCA Consultores.

Para ele, se os sinais de aquecimento maior da economia se confirmarem já neste primeiro trimestre, é mais provável que os próximos dois cortes do BC sejam de apenas 0,25 ponto cada.

- O BC está num dilema. É melhor ir em doses homeopáticas, porque estamos no escuro. E, quando se está no escuro, a gente tem de andar devagar - afirmou o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, ressaltando que ninguém sabe com certeza qual será o comportamento da economia.

A seu ver, a retomada da economia deve ser sentida em 2013, quando a pressão sobre os preços seria maior. Por isso, Freitas espera alta dos juros no segundo semestre deste ano.

Cortes de gastos ajudariam no combate à inflação

Já para o economista da Gradual Investimentos, André Perfeito, o BC deveria ter cortado apenas 0,25 ponto ontem. Ele explicou que, para alguns de seus colegas, o BC rasgou o manual do sistema de metas de inflação. Mesmo sem concordar, ele acha que a instituição não apertará o cinto mais do que o necessário para não massacrar o crescimento, mas as contas não fecharão em 2012.

Para outro grupo, o governo quer levar a Selic a um dígito até o fim do governo Dilma. Para isso, os cortes de gastos fariam o papel da taxa de juros para controlar a inflação. O problema, segundo Perfeito, é que com menos crescimento o governo terá menos gordura para queimar. Por isso ele não vê espaço para maiores cortes e projeta Selic de 10% este ano.

- Este ano será mais difícil, mas pode ficar menos difícil daqui para a frente, e a Selic pode chegar a 9% - disse o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Júlio Gomes de Almeida, hoje no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria.