Título: Coaf: 205 do Judiário têm operações suspeitas
Autor: Maltchik, Roberto; Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 19/01/2012, O País, p. 13

Grupo movimentou R$594 milhões entre 2000 e 2010; PF vai investigar operação de servidor do TRT-RJ em 2002

BRASÍLIA e RIO. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou 205 membros da magistratura ou servidores cuja movimentação atípica tem indícios de irregularidade. Eles foram alvo de Relatórios de Inteligência Financeira (RIF), instrumento usado para aprofundar a análise de operações consideradas suspeitas. Esse grupo do Judiciário movimentou, entre 2000 e 2010, R$594,1 milhões.

De acordo com o presidente do Coaf, Antonio Rodrigues, "na maioria das vezes", as RIFs apontam casos nos quais PF e Ministério Público constatam irregularidades. A indicação está em relatório do Coaf, feito a pedido da corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo o órgão, a movimentação atípica chegou a R$855,7 milhões, mas nem todas são ilegais. Já no caso dos RIFs, os citados estão envolvidos em movimentações atípicas e há indícios que despertam suspeita de ilegalidade.

Ontem, o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra, esteve no Coaf para discutir com o presidente do órgão em quais circunstâncias são gerados RIFs. Rodrigues assegurou ao magistrado que, a partir da solicitação da corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, nenhum RIF foi emitido. Já o presidente da AMB afirmou que, além de quebrar a confidencialidade do relatório do Coaf e de levantar suspeitas sobre o conjunto da magistratura, Calmon solicitou ao Coaf que produzisse RIFs relacionados a todos os CPFs nos quais foram verificadas atipicidades.

- Esse relatório (solicitado pelo CNJ) não é para ser publicado na imprensa. É confidencial. É preciso afastar a ideia que é preciso investigar a magistratura - afirmou Calandra.

A PF, no Rio, abriu ontem inquérito para investir a movimentação atípica de R$282,9 milhões feita por um servidor do Tribunal Regional do Trabalho do Rio (TRT-RJ), em 2002, citada no relatório do Coaf. Ontem, a presidente do órgão, Maria de Lourdes Sallaberry, disse não ter qualquer informação sobre o servidor, que, segundo o Coaf, teria sido doleiro e já foi preso por irregularidades antes de entrar para o TRT do Rio.

Ela ainda criticou o presidente da OAB no Rio, Wadih Damous, por ataques feitos a membros do TRT por causa da movimentação atípica.