Título: FMI corta previsão de crescimento mundial
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 25/01/2012, Economia, p. 23
Pesquisa mostra que apenas 15% esperam melhora da economia; 48% veem piora
Este ano, expansão será de 3,3% em vez de 4%. Grécia pode ser rebaixada novamente pela S&P por calote seletivo
WASHINGTON, NOVA YORK, ZURIQUE e ATENAS. A crise de dívida da zona do euro está aumentando e pressionando a economia global, anunciou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI), que cortou suas previsões para o crescimento global e pediu políticas para restaurar a confiança. O organismo reduziu de 4% para 3,3% sua projeção para o crescimento econômico global este ano, argumentando que as perspectivas pioraram na maioria das regiões. Para 2013, o Fundo estima que a expansão suba para 3,9%, abaixo, porém, da previsão de 4,5% anunciada em setembro.
Segundo o FMI, a atividade econômica está desacelerando, mas sem entrar em colapso. O órgão advertiu que o avanço do crescimento mundial pode ficar cerca de dois pontos percentuais abaixo da nova previsão de 3,3% se os líderes europeus permitirem que a crise se aprofunde. E, pela primeira vez desde o início da crise da dívida, há dois anos, o FMI disse que os 17 membros da zona do euro devem entrar em uma leve recessão, com uma contração de cerca de 0,5% este ano.
"O epicentro do perigo é a Europa, mas o resto do mundo está cada vez mais afetado", disse em Washington Olivier Blanchard, economista-chefe do Fundo. "Há um risco ainda maior, que é o perigo da Europa se intensificar. Neste caso, o mundo poderia mergulhar em outra recessão."
Para as economias em desenvolvimento, o FMI prevê um crescimento de 5,4% este ano - abaixo da previsão feita em setembro, de 6,1% -, refletindo a "deterioração do ambiente externo, assim como a diminuição da demanda doméstica em economias emergentes-chave".
E no momento em que a Grécia tenta concluir a reestruturação de sua dívida a agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) deve rebaixar a nota do país para "moratória seletiva" (selective default, em inglês, ou SD). Este grau de rating é dado quando o credor deixa de pagar algumas obrigações financeiras, mas mantém outros pagamentos, segundo a agência.
Moratória pode não ter efeito sobre zona do euro
A dívida da Grécia é classificada pela S&P como "CC" desde 27 de julho de 2011. Abaixo desta classificação, há apenas "R", quando o credor está em supervisão regulatória, "SD" (calote seletivo) ou "D" (calote total). Segundo um executivo da S&P, o rebaixamento da Grécia não destruirá, necessariamente, a credibilidade da União Europeia.
- Não há garantias de que uma moratória da Grécia tenha um efeito dominó sobre a zona do euro - disse ontem John Chambers, presidente do comitê de classificação de dívida soberana da S&P.
A reestruturação da dívida grega terá de ocorrer e, segundo o que foi acordado por líderes europeus, deve reduzir em 50% o débito do país com credores privados. Mas essa perda pode aumentar. Desde a semana passada, detentores de títulos gregos negociam com o governo.
Os credores privados da Grécia pediram às autoridades europeias, que anteontem rejeitaram uma proposta, que acertem um acordo antes que o país decrete moratória. Em março, há vencimentos de 14,5 bilhões.
- É importante que todas as partes reconheçam o quanto está em jogo e trabalhem juntas e cooperem para encontrar uma solução - afirmou Charles Dallara, do IIF, que representa os bancos.
Dallara não disse se o grupo apoia a proposta de um cupom de 4%, rejeitada ontem pela UE. O ministro alemão de Finanças, Wolgang Schäuble, minimizou o que os credores chamaram de oferta final, dizendo que "isso ocorre em qualquer bazar".
Já o ministro grego de Finanças, Evangelos Venizelos, disse que as negociações devem acabar nos próximos dias.