Título: Tratores põem Pinheirinho abaixo
Autor: Vasconcelos,Adriana; Barbosa, Adauri
Fonte: O Globo, 25/01/2012, Economia, p. 12

Moradores reclamam que não puderam tirar pertences; PSDB reage às críticas

BRASÍLIA E SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP). A demolição de casas e barracos do Pinheirinho, área ocupada desde 2004 em São José dos Campos (SP) por cerca de seis mil pessoas, levou ao desespero antigos moradores, especialmente os que não conseguiram retirar previamente os seus pertences, como móveis, roupas e outros objetos. Segundo a PM, 40% das cerca de 1,7 mil moradias foram derrubadas ontem, e a reintegração de posse do terreno, iniciada no último domingo, deve ser encerrada ao meio-dia de hoje. Ainda segundo a PM, dois carros foram incendiados ontem nas proximidades do Pinheirinho. Não houve registro de feridos. Segundo a prefeitura de São José dos Campos, das mais de 900 famílias cadastradas pelo município, 350 tinham sido removidas da área. De acordo com o coronel Manoel Messias Mello, comandante do policiamento do interior da PM, que também comandou a operação no Pinheirinho, os moradores que estavam em suas casas no domingo receberam uma senha para retirar seus pertences do local. Muitos, no entanto, já encontraram o imóvel demolido, como o segurança José Francisco dos Santos. Cadastrado pela prefeitura, ele havia agendado a mudança para ontem. Mas, ao chegar ao local, viu que a casa já havia sido derrubada. — Será que não dava para esperar? A retirada foi agendada para hoje (ontem) e estou aqui com o caminhão. Quem é que vai se responsabilizar por isso? — perguntava José Francisco aos policiais, enquanto a mulher, Janaína dos Santos, chorava, lamentando a perda de uma geladeira recém-comprada, cama, sofá e armários. No fim da tarde, o capitão Antero Baraldo, da assessoria de comunicação da PM, disse que as casas foram demolidas depois de um oficial de Justiça ter preenchido um documento no qual os moradores relacionavam os pertences que queriam retirar do imóvel. — Se há denúncias de que esse procedimento não foi seguido, recomendo que procurem o poder competente, no caso, o Poder Judiciário — disse o capitão. Goldman: PT fez proselitismo político Parte dos antigos moradores do Pinheirinho permanece nos dois abrigos da prefeitura, onde aguardam uma nova casa para morar. — A gente não tem para onde ir. Vamos morar onde agora? Na rua? A gente não podei nem buscar o remédio que ficou em casa, nem roupa, nada — desabafou Antonio Damião. Os tucanos reagiram ontem às críticas do PT e do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, à operação de reintegração de posse. Para o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), tudo o que o PT queria é era uma morte, para tirar "uma casquinha eleitoral". — A repercussão eleitoral será zero.Tudo o que eles queriam era um cadáver, mas a política foi impecável. Decisão judicial não se discute, se cumpre. A sociedade paulista já está vacinada, tanto que estamos no comando do estado há cinco mandatos — disse Nogueira. Em nota, o presidente em exercício do PSDB, o ex-governador paulista Alberto Goldman, acusou o "ministro e seu partido" de terem criado uma falsa expectativa para as famílias. Ele condenou o que chamou de "intromissão deplorável" do governo federal e a "politização" de uma ação da Justiça. E concluiu: "Ao invés de fazer proselitismo político, o governo federal poderia ter publicado decreto de desapropriação da área, mas não o fez".