Título: Haddad sonha repetir Dilma
Autor: Souza, André de
Fonte: O Globo, 25/01/2012, O País, p. 10

Petista acha que Marta não terá alternativa e vai apoiá-lo

Maria Lima, Fernanda Krakovics e Diana Fernandes

BRASÍLIA. Escalado pelo ex-presidente Lula para tentar quebrar a hegemonia do PSDB e do DEM na prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad (PT) começa a se dedicar à sua primeira eleição na expectativa de repetir o fenômeno "poste" Dilma Rousseff. Ele não vê problema em ser comparado com a presidente, que, assim como ele, não tinha experiência eleitoral quando foi escolhida por Lula para ser a candidata do PT à Presidência. Haddad só fecha a cara quando insinuado que ele é o novo "poste do Lula". — Espero não me diferenciar em nada. Ela foi vitoriosa. Sobre uma das possíveis dificuldades de sua campanha, a eventual ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP) em seu palanque — ela ainda não assimilou a falta de uma compensação por ter desistido da pré-candidatura —, Haddad adotou o silêncio em público. Mas quem tem conversado com ele já ouviu que acredita que o apoio de Marta é apenas questão de tempo, e que ela não terá outra alternativa: — Marta é extremamente partidária. Ela veste a camisa do partido — tem dito ele. A relação entre os dois é distante, e a ausência de Marta nas despedidas de Haddad do governo Dilma foi muito comentada. Haddad ainda não a procurou para pedir apoio. Nem parece muito disposto a fazê-lo. Sobre especulações de que Marta exige um ministério para entrar de cabeça na sua campanha, a opinião de Haddad é que é preciso, sim, dispensar carinho à companheira. Mas lhe dar um ministério seria exagero. O homem que Lula escolheu para fazer em São Paulo o que fez com Dilma no Brasil é pura gratidão ao ex-presidente. Seja qual for o resultado da eleição paulistana, Haddad tem consciência de que a carreira política que está iniciando agora é fruto, única e exclusivamente, da experiência política de Lula. Quando fala do ex-presidente, ele começa a contar sobre sua chegada ao posto de ministro, em meados de 2005, no auge do escândalo do mensalão. E repetiu muitas vezes: — Presidente, conte comigo para o que der e vier. Temos condições de fazer um grande trabalho. O Ministério da Educação tem potencial para mudar o quadro do país. Sobre o que espera da campanha e da eleição, Haddad revela sua apreensão: — Não estou desconfortável, mas nunca fui testado. Até agora joguei sem bola. Vamos ver como funcionará com a bola rolando. Longe ainda da pressão para formar alianças, Haddad não demonstrou entusiasmo com eventual aliança com o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Muito menos com o nome que tem sido citado para seu vice: o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider. Para o petista, ele nada agregaria à chapa, já que os dois têm perfis parecidos. Haddad gosta de se vangloriar de que está deixando o governo sem nunca ter levado uma das clássicas broncas de Dilma, definidas por ele como "a martelada". Mas é compreensivo com o jeito duro da presidente: — Ela não tolera desleixo — repetia ele para sua equipe. Uma dessas "marteladas" presenciadas por Haddad e que ele contou à equipe é, no mínimo, engraçada: foi um sabão que Dilma passou em um assessor por causa de erros de português na transcrição do programa "Café com a Presidenta". Foram uns 15 minutos de aula com uma Dilma furiosa, andando de um lado para o outro, discorrendo sobre conjunções adversativas, regras sobre vírgulas e até latim. — Não é possível que eu tenha que corrigir até erros de português! — vociferava Dilma.