Título: Um órgão centenário
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 25/01/2012, O País, p. 3

Criado para combater seca, Dnocs foi apropriado pelas elites do Nordeste

BRASÍLIA. Criado em 1909, com o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (Iocs), o centenário Dnocs já foi o centro de outros escândalos no passado. Entre os de maior repercussão, o que envolveu o então presidente da Câmara, o deputado pernambucano Inocêncio Oliveira, em 1993. Inocêncio foi acusado de usar o Dnocs para perfurar três poços artesianos em suas terras, no sertão pernambucano. O Dnocs foi a principal agência federal no Nordeste até a criação da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), em 1959, construindo, inclusive, obras de infraestrutura, como estradas, ferrovias e redes de energia. Entre os motivos que levaram à criação de outras agências estavam as denúncias de que o Dnocs e seus antecessores foram capturados pelas elites locais, destinando recursos, por exemplo, para a construção de açudes nas fazendas de grandes proprietários. Assim, a expressão “indústria da seca” ganhava vida. O primeiro diretor da Iocs, o engenheiro Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, já havia observado intromissão política na orientação científica dos trabalhos conduzidos pelo órgão, levando-o a organizar novo regulamento, em 1911, para obter informações mais confiáveis sobre os índices pluviométricos na região. As mudanças de governo também afetaram o Dnocs e seus antecessores. Já em 1919, chegou à Presidência da República o paraibano Epitácio Pessoa, que deu maior destaque à IOCS, renomeando- a como Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs). Sua determinação era fazer obras. Mas não houve continuidade no governo seguinte, do presidente mineiro Artur Bernardes, e o Ifocs quase desapareceu. Depois do Dnocs — que ganhou esse nome em 1945 — e a Sudene, surgiriam ainda outras agências que enfocavam também o desenvolvimento da Região Nordeste, como a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).