Título: Brasil despenca no ranking da mídia livre
Autor: Otavio, Chico; Góes, Bruno
Fonte: O Globo, 26/01/2012, O País, p. 12

Crimes contra jornalistas fazem país passar do 58, para o 99, lugar na lista divulgada pela Repórteres sem Fronteiras

O assassinato de três jornalistas e blogueiros, cujos nomes não foram mencionados, derrubou a posição do Brasil no ranking anual de liberdade de imprensa divulgado pela organização Repórteres sem Fronteiras. Com os crimes, o Brasil deixa o 58, lugar, classificação de 2010, e passa a ocupar o 99+ posição, uma queda de 41 postos, a pior entre os países da América Latina. O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Marcelo Moreira, alertou que, se a situação de violência se prolongar, a imprensa brasileira correrá o risco de caminhar para "o pior cenário possível", com jornalistas praticando a autocensura como forma de proteção. Moreira disse que o problema, enfrentado pela Colômbia no passado, é observado hoje no México, situação que impõe limites ao direito à informação. Embora não cite nomes, a Repórteres Sem Fronteiras divulgou notas no ano passado contra a morte de, pelo menos, cinco profissionais brasileiros: Valério Nascimento (Estado do Rio, em maio), Luciano Leitão Pedrosa (morto em Pernambuco, em abril), Ednaldo Figueira (Rio Grande do Norte, em junho), Auro Ida (Mato Grosso, em julho) e Gelson Domingos da Silva, cinegrafista da TV Bandeirantes, atingido em novembro enquanto registrava uma operação policial em favela na Zona Oeste do Rio. O ranking 2011/2012, que abrange 179 países, é liderado pela Finlândia, pela Noruega e pela Estônia, os países com mais liberdade de imprensa. Na América Latina, o Uruguai, na 32+ posição, foi o melhor posicionado. Ficaram na frente do Brasil a Argentina (47+), o Chile e o Paraguai (ambos na 80+). Atrás, Equador (104+) e Bolívia (108+). As últimas colocações foram ocupadas por Turcomenistão, Coreia do Norte e Eritreia. O elevado índice de violência no Brasil, agravado pela atuação do crime organizado e pelos atentados contra o meio ambiente, foi mencionado no relatório como principal ameaça à atividade dos profissionais da imprensa no Brasil. Para a organização, as regiões Norte e Nordeste são mais perigosas para os jornalistas, embora dois dos cinco assassinatos mencionados por ela no ano passado tenham ocorrido no Rio de Janeiro. O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, também lamentou o resultado: — É um dado que demonstra como a liberdade de expressão tem sido golpeada no país, mesmo quando estamos submetidos a uma Constituição democrática . Para o presidente da ABI, o quadro de violência, com efeitos para a liberdade de imprensa, é mais problemático nos locais menos populosos do país: — Essa triste situação (da queda no ranking) decorre principalmente da violência contra jornais e jornalistas no interior do país. No ano passado, nós tivemos pelo menos 11 assassinatos de jornalistas. Os crimes não são sequer esclarecidos e os meios para a punição e investigação são muito precários. Só posso dizer que é lamentável, depois de anos de luta a favor da liberdade de imprensa, hoje se constatar essa realidade. Para Marcelo Moreira, o problema deve ser combatido com um trabalho sério em duas frentes: — Primeiro, de cobrança das autoridades para que estes crimes não fiquem impunes. E, segundo, que o combate à impunidade seja aliado a mecanismos de proteção à atividade dos jornalistas a serem discutidos pela mídia.