Título: Enquanto isso, seca causa dor e prejuízo
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 26/01/2012, O País, p. 3

RN recebe mais verbas, mas RS tem 66% das cidades em emergência

Carolina Benevides, Alessandra Duarte e Odilon Rios

RIO, BRASÍLIA, RECIFE, SALVADOR E MACEIÓ. Muito distante das denúncias e disputa por cargos no principal órgão que deveria cuidar dos efeitos e dos estragos da seca, a agricultora Adalva Antunes, de 56 anos, desabafa: — A gente sobrevive porque o sertanejo é forte. Não chove há oito meses, recebemos um carro-pipa a cada três, não podemos tomar banho, e é preciso beber pouca água. Rezamos pela chuva. Adalva é moradora de Lagoa Grande, um dos nove municípios do sertão pernambucano que decretaram emergência por causa da falta de chuva que atinge o estado. O secretário de Agricultura do município, Reginaldo Alencar, atesta o drama da população e conta que a cidade sofre com descontinuidade dos repasses federais: — Em 2011, a verba chegou para cinco meses, e mesmo assim nunca 100%. Os carros-pipa não atendem todos. No distrito de Jutaí, há 1.200 pessoas passando sede. Em Cabrobó, também em estado de emergência, o dinheiro federal só chegou até novembro de 2011. — Não veio em dezembro e não sabemos se virá em janeiro e fevereiro. Estou à frente da secretaria há seis anos e não me recordo de uma seca como essa — diz Glênio Rodrigues Nogueira, secretário municipal de Agricultura. Na Bahia, mais de meio milhão de pessoas sofrem com a seca que atinge a região do semiárido desde o fim do ano passado. Há pelo menos três meses, os municípios não registram chuvas suficientes nem para encher reservatórios. Além de água para consumo, nas despensas dos moradores da região, começa a faltar que o comer. No total, 41 municípios estão com situação de emergência declarada por causa da estiagem. Apesar da situação se repetir ao longo dos anos, a solução continua sendo emergencial na maioria dos municípios. Como em Jaguaquara, sudoeste do estado, onde moradores usam, como alternativa para alimentar os animais e também para o uso doméstico, a água de um brejo às margens da rodovia BR 116. Em Alagoas, das 38 cidades localizadas na região da seca, 33 estão em situação de emergência e quase um milhão de alagoanos enfrenta a estiagem. Muitos têm de usar carros de boi para levar água de alguma cisterna. Um caminhão pipa custa R$ 80,00. Mas enquanto o Rio Grande do Norte , do presidente do Dnocs, Elias Fernandes, recebeu mais verbas ano passado, é no outro extremo do país, no Rio Grande do Sul, que 66% das cidades já estão em emergência. por causa da seca. Segundo a Defesa Civil do estado, são 327 municípios. Um deles, Santa Maria, estima perdas de 95% da safra do milho, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Rural, Rodrigo Menna Barreto. Nova Palma, outra cidade em situação de emergência, estava sem chuvas desde 22 de novembro. Esta semana, segundo moradores, houve trombas d"água irregulares, que não foram suficientes para combater a estiagem. Em todo o estado, 1.918.867 pessoas foram afetadas. Em Santa Catarina, o governo estima que os prejuízos na agropecuária com a estiagem passem dos R$ 510 milhões.