Título: Contra ameaças, demissão
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 27/01/2012, O País, p. 3

Pressão do PMDB tem efeito contrário e faz Dilma determinar saída de diretor do Dnocs

Em vez de intimidarem a presidente Dilma Rousseff, as ameaças disparadas contra o governo nos últimos dias pelo líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), tiveram efeito contrário ao esperado e precipitaram a demissão do diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes Neto. A troca de comando, que Dilma determinara que fosse decidida no início de fevereiro, ocorreu nas primeiras horas da manhã de ontem e foi comunicada pela chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, ao vice-presidente Michel Temer, encarregado de conduzir o processo no PMDB. No Planalto, houve forte contrariedade com o tom do líder peemedebista de desafiar a autoridade presidencial, exposto pelo GLOBO nos últimos dias, mesmo depois de ele ter sido comunicado da decisão de substituir Elias Fernandes. O Planalto procurava construir com o PMDB uma saída honrosa para o afilhado político de Henrique Alves. Mas, ontem de manhã, a ordem no Planalto foi suspender as negociações. Isso tornou ainda mais delicada a relação do PMDB com o governo. Nos bastidores, ainda é grande o grau de insatisfação dos aliados com o modo de governar da presidente. Henrique Alves foi o primeiro a dar a notícia da demissão, no Twitter, e terminou seu relato sobre o episódio afirmando que caberá a ele indicar o novo diretor do Dnocs, mas que precisava de alguns dias para apresentar o nome. No Palácio do Planalto, a constatação é a de que não será bem assim. Será uma escolha técnica. O líder do PMDB poderá ser o que chamam na política de "barriga de aluguel": o político apadrinha o escolhido para o cargo. Elias Fernandes ocupava o cargo desde 2007 por indicação de Henrique Alves. Ele ficou com a situação extremamente fragilizada após reportagem do GLOBO ter revelado a existência de irregularidades de R$ 312 milhões na autarquia, além de direcionamento de verbas de Defesa Civil para o Rio Grande do Norte. As irregularidades, que incluem superfaturamento e outros problemas, foram detectadas em auditoria da Controladoria Geral da União (CGU), concluída em dezembro de 2011. Os dois negam favorecimento no órgão.

PMDB aconselhou Alves a moderar l Após perceber que não teria mais como esticar a corda, a cúpula peemedebista entrou em campo e Fernandes apresentou seu pedido de demissão ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), em reunião ontem de manhã. Pouco antes, Temer conversou por telefone com Henrique Alves, reafirmando que a situação estava ficando insustentável. Henrique então recuou. Na véspera, Henrique Alves e seus aliados ameaçaram aprovar a convocação do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, para que ele explicasse na Câmara suas consultorias milionárias, caso Elias Fernandes fosse demitido sem direito de defesa. Ontem, peemedebistas aconselharam Henrique Alves a moderar o tom, pois seria "uma luta inglória". Avaliação feita pela cúpula do PMDB era a de que Henrique Alves conduziu mal o episódio, ao optar por contestar publicamente o relatório da CGU e insistir na permanência de Fernandes. Peemedebistas relataram ao GLOBO que o episódio deixou sequelas e que, a partir de agora, a relação entre o partido e o Planalto está abalada. Nos bastidores, continuam as ameaças de que "o governo terá o troco". Um dirigente do partido, que preferiu o anonimato, afirmou: — Todos compartilham da insatisfação de Henrique com o jeito Dilma. O clima é o pior possível: os dela, ela blinda, e os outros, passa a caneta. Nosso comportamento vai mudar. A partir de agora, não blindaremos mais ninguém. No fim do dia, o ex-ministro da Integração e vice-presidente da Caixa, o peemedebista Geddel Vieira Lima (BA), expôs essa insatisfação. No Twitter, lamentou o desfecho da crise no Dnocs, e fez uma advertência: "Ruim esse episódio do Dnocs. A forma não traz nenhuma contribuição à aliança nacional entre PT e PMDB". De manhã, no Twitter, Henrique Alves defendeu seu apadrinhado e afirmou que Fernando Bezerra lhe garantira que ele indicaria o sucessor de Fernandes. Depois, foi esfriar a cabeça na praia, como revelou pelo microblog: "Bem, agora... , na praia , dia lindo...