Título: E o pré-sal vazou
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 01/02/2012, Economia, p. 21

Problema na Bacia de Santos foi o primeiro na nova área de exploração. Ações da Petrobras caem

Ramona Ordoñez, Mônica Tavarese Ronaldo D"Ercole

O rompimento de uma coluna de produção em um poço operado pela Petrobras no campo de Carioca Nordeste, na Bacia de Santos, causou o primeiro vazamento de petróleo no pré-sal. Em nota, a Petrobras informou que o rompimento do equipamento, a 300 quilômetros da costa de São Paulo, ocorreu às 8h30m de ontem, durante os Testes de Longa Duração (TLD). Segundo a companhia, o vazamento foi logo contido porque o poço foi imediatamente fechado pelos sistemas de segurança. As estimativas são de que vazaram 160 barris de petróleo, equivalentes a 25 mil litros. Por causa do acidente, as ações preferenciais (PN) da empresa caíram 0,81% e as ordinárias (ON) se desvalorizaram 0,18%, num dia em que a Bolsa de Valores de São Paulo teve alta de 0,48%.

O campo Carioca Nordeste está localizado no bloco BMS-9, e a Petrobras tem como sócios na operação a BG e a Repsol. A produção de petróleo estava sendo realizada pelo navio-plataforma FPWSO Dynamic Producer. De acordo com a estatal, não existe possibilidade de o petróleo chegar à costa, já que o campo fica a cerca de 300 quilômetros do litoral paulista. O poço está a uma profundidade de 2.140 metros de distância do nível ao fundo do mar.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) criou uma equipe de investigação que chegará hoje ao navio-plataforma para fiscalizar o local. Devido à distância, a ANP também não acredita que o petróleo atingirá o litoral paulista. A agência confirmou que o poço foi fechado, interrompendo o vazamento, e que as ações para conter a mancha de óleo estão em andamento.

A Petrobras está apurando as causas do acidente. Segundo a companhia, logo após o ocorrido foram acionados os meios necessários para o recolhimento do petróleo no mar e na parte superior da coluna do poço. A estatal também informou o que houve à Marinha, ao Ibama e à ANP. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também recebeu ontem a informação de que o vazamento já havia sido contido. Segundo assessores, ele monitora o caso.

Capitania dos Portos abriu inquérito

O Ibama informou que o TLD de Carioca Nordeste está regularmente licenciado. Em nota, o órgão disse que foi comunicado pela Petrobras do incidente às 11h40m e que, depois disso, além de contato telefônico permanente com os responsáveis pelo controle do vazamento, enviou dois técnicos à Sala de Operações de Emergências da Petrobras em Macaé para acompanhar os trabalhos de recolhimento do óleo derramado. Hoje, outros dois analistas ambientais do Ibama realizarão um sobrevoo para avaliar a implementação do Plano de Emergência. Outros técnicos serão enviados à Sala de Gestão de Emergências da Petrobras em Santos.

Ainda segundo o Ibama, a produção no local do acidente está suspensa e só poderá ser retomada mediante nova autorização sua, depois de apuradas as causas e do dimensionamento das consequências ambientais.

De acordo com nota da Marinha, a Capitania dos Portos do Rio de Janeiro instaurou inquérito administrativo para apurar o fato, com prazo de conclusão de até 90 dias. Além disso, a Marinha enviou a Fragata Niterói, com um helicóptero a bordo, para o local do vazamento para verificar as ações de resposta, observar a extensão da mancha, bem como filmar e fotografar o local. Também foi criado um Grupo de Acompanhamento para monitorar e avaliar as ações da Petrobras.

O diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe/UFRJ, Segen Estefen, disse que o acidente comprova a necessidade de adoção de medidas de segurança mais rígidas. Segundo ele, a Coppe sugeriu ao Ministério de Minas e Energia a criação de um centro de monitoramento e prevenção de acidentes no mar após o vazamento, em novembro, no campo de Frade, na Bacia de Campos, operado pela Chevron. Entre suas atribuições estariam o monitoramento por satélite, estudo de materiais e medidas para aumentar barreiras em caso de acidentes:

- O desenvolvimento do petróleo no pré-sal multiplicará as atividades no mar, e o pré-sal é uma riqueza estratégica que não pode ser deixada de lado, mas é preciso aumentar os cuidados.

O vazamento deve esquentar a briga pela distribuição dos royalties do petróleo entre estados produtores e não produtores, que se arrasta desde 2010. Está prevista para fevereiro a instalação da Comissão dos Royalties, que já tem 24 dos 33 participantes. Faltam os indicados de PT e PMDB.

COLABOROU Vivian Oswald