Título: Brasiguaios reforçam segurança contra sem-terra
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 01/02/2012, O País, p. 9

Tensão entre fazendeiros brasileiros e agricultores do Paraguai aumenta, e possibilidade de conflito é iminente

SÃO PAULO. A pressão dos sem-terra do Paraguai para expulsar os brasiguaios, como são chamados os brasileiros que vivem naquele país, levou os empresários rurais brasileiros a reforçar a segurança de suas terras nos últimos dias, com a contratação de homens armados. Atualmente, 10 mil famílias de sem-terra estão acampadas em Ñacunday, região onde Tranquilo Favero, o fazendeiro paranaense naturalizado paraguaio, produz grãos e cria gado. A situação criou um clima de tensão nos departamentos daquele país, principalmente no Alto Paraná, onde vivem 300 mil brasileiros, que dizem estar prontos para um enfrentamento.

— Estamos nos cuidando, não vamos deixar que esses baderneiros atrapalhem nossa vida — disse Favero, ontem, por telefone, ao GLOBO.

Aos 74 anos de idade e há 42 anos vivendo no Paraguai, onde se naturalizou em 1990, Favero diz que teme uma possível invasão, mas acredita que o governo deve reforçar o número de policiais nos acampamentos. Atualmente, cerca de 500 homens foram designados pelo governo para fazer a segurança em Ñacunday. O clima pode esquentar nos próximos dias, quando mais 20 mil famílias de sem-terra devem chegar ao acampamento para se juntar ao grupo, segundo lideranças dos sem-terra.

— Estamos aqui para reivindicar o que é do povo paraguaio por direito. O Favero comprou terras fiscais, que são do Estado, não poderiam ser vendidas a estrangeiros. Mais 20 mil famílias vão chegar nos próximos dias e estamos prontos, se for preciso, para tomar (invadir) a qualquer momento — disse ao GLOBO o líder dos sem-terra, Victoriano Lopez Cardoso.

Favero alega que não comprou terras fiscais e que nos últimos 40 anos investiu US$ 50 milhões no país:

— É por causa de brasileiros que estão aqui que o PIB do Paraguai foi o segundo que mais cresceu em 2010. O problema é que estamos lidando com bandidos (lideranças dos sem-terra) que não têm nada a perder.

Membro de uma família que há anos produz soja na cidade paraguaia de Santa Rita, na região do Alto Paraná, Fernando Alonso, de 36 anos, disse ontem que os chamados brasiguaios já voltaram a reforçar a segurança de suas terras por conta da tensa negociação entre os sem terra e os agricultores brasileiros em Ñacunday.

— Os sem-terra sempre estão de olho em recuperar algo que eles mesmo abandonaram — disse Fernando, colocando lenha na disputa que ganha proporções cada vez maiores.

Na segunda-feira, a direção dos sem-terra em Ñacunday encaminhou documento à Presidência do Paraguai pedindo a devolução, por parte dos brasileiros, de 167.978 hectares de terra. Na nota, alertaram para a possibilidade de “enfrentamento, inclusive morte, entre acampados e produtores de soja”.