Título: Conflito no Paraguai preocupa, diz embaixador
Autor: Figueiredo, Janaina
Fonte: O Globo, 28/01/2012, O País, p. 15
Brasileiros e novo grupo de sem-terra do país vizinho, os chamados carperos, disputam a posse de áreas férteis paraguaias
BUENOS AIRES. O conflito entre movimentos de sem-terra paraguaios e proprietários de terra brasileiros, os chamados brasiguaios, é antigo no Paraguai, mas, nos últimos meses, ganhou novos contornos com o surgimento da Liga Nacional de Carperos, um grupo radical em seu discurso e metodologia, que não conta com o apoio de outros movimentos rurais do país. As recentes invasões de terras no departamento (estado) de San Pedro, terra natal do presidente Fernando Lugo, provocaram uma enérgica reação por parte dos brasileiros, que levaram suas queixas à embaixada do Brasil em Assunção e pediram o impeachment de Lugo pela "inação de seu governo". O assunto foi discutido pelo embaixador do Brasil no Paraguai, Eduardo dos Santos, em reunião na última terça-feira, no Palácio de López, sede do Executivo paraguaio. Segundo informou a imprensa local, após o encontro o embaixador defendeu a necessidade de encontrar uma solução "legal e institucional" para o conflito entre os carperos e os produtores brasileiros. — A situação nos preocupa, esperamos que se pacifique e haja diálogo — declarou Santos, que após o encontro não voltou a se pronunciar sobre o assunto. Os carperos pretendem que o governo Lugo recupere áreas em poder dos brasileiros e as redistribua entre os sem-terra. O grupo argumenta que as terras são do Paraguai, que foram ilegalmente apropriadas pelos produtores brasileiros. Um dos empresários brasileiros envolvidos no conflito é Tranquilo Favero, o maior produtor de soja do país, cujas propriedades, nos últimos meses, foram alvo de invasões organizadas pelo novo grupo de sem-terra paraguaios. No ano passado, cerca de 600 famílias de camponeses ocuparam terras que Favero possui, segundo ele legalmente, na região do Alto Paraná. Nos últimos dias, os carperos deram um ultimato a Lugo, que vencia na próxima segunda-feira. No entanto, ontem, um dos líderes do grupo, Victoriano López, esclareceu que eles não poderiam "dar um prazo ao governo para resolver este problema". — Nós sabemos que a lei nos ampara, porque são terras públicas — disse o líder carpero. As invasões de terras são um problema crônico no Paraguai. Nos primeiros meses após tomar posse, em agosto de 2008, Lugo criou uma mesa de diálogo entre seu governo e líderes camponeses, mas as conversas fracassaram. Durante sua campanha, o presidente prometera uma reforma agrária, mas a falta de apoio no Congresso impediu o avanço de qualquer iniciativa nesse sentido. Os sem-terra insistem em defender as ocupações ilegais como metódo legítimo de protesto, e os sucessivos governos não conseguem encontrar uma solução capaz de pôr fim ao conflito. Muitos casos já foram parar na Justiça e esse delicado problema bilateral já faz parte do dia a dia dos consulados brasileiros em Assunção, e, principalmente, em Cidade do Leste, na fronteira com o Brasil. Lugo esteve ontem em São Paulo, mas não falou com a imprensa. Ele foi ao Hospital Sírio- Libanês, onde soube que houve remissão completa do câncer linfático descoberto em agosto de 2010. Lá, encontrou-se com o expresidente Lula, que ontem fez mais uma sessão de radioterapia para combater o câncer na laringe, e com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O conteúdo da conversa entre eles não foi divulgado por suas assessorias de imprensa